quarta-feira, setembro 16, 2009

A Fabulogogia ou Educação pela Fábula

«Logo, devemos começar por vigiar os autores de fábulas, e seleccionar as que forem boas, e proscrever as más. As que forem escolhidas, persuadiremos as amas e as mães a contá-las às crianças, e a moldar as suas almas por meio das fábulas, com muito mais cuidado do que o corpo com as mãos. Das que agora se contam, a maioria deve rejeitar-se.
- Quais?
- Pelas fábulas maiores avaliaremos das mais pequenas. Pois é forçoso que a matriz seja a mesma e que grandes e pequenas tenham o mesmo poder. Ou não achas?
- Acho. Mas não entendo quais são essas maiores que dizes.
- As que nos contaram Hesíodo e Homero - esses dois e os restantes poetas. Efectivamente, são esses que fizeram para os homens essas fábulas falsas que contaram e continuam a contar.»

- Platão, "Política" (vulgar, e grosseiramente, traduzido por "A República")



Uma república onde não caibam os poetas não lembra ao diabo e talvez só lhe sirva a ele. Todavia, lembrou a Platão. Entendeu que do seu mundinho perfeito deveriam ser expulsos Homero, Ésquilo, Píndaro e Sófocles, só para citar alguns dos gigantes sobre cujos ombros ele, o contador de Sócrates, assentava. É certamente digno de riso e mereceu bem todos os sarcasmos abençoados que Diógenes lhe dedicou.
Isto não retira grandeza a Platão, apenas lhe retira algum brilho. Ou, melhor dizendo, apenas lhe confere um lado sombrio, como é próprio dos astros que gravitam em redor das estrelas. As suas destilações políticas, de resto, são o mais pobre que a sua filosofia tem, não tanto ao nível do diagnóstico, mas de todo ao nível da terapia. E aí inaugura uma galeria de tecelões da utopia e tricotadeiras da felicidade pública que teve no hirsuto Marx o último - tanto quanto o mais rasteiro e lamentável - dos epígonos. Platão, aliás, como castigo (ou recompensa), merecia visitar, em peregrinação turística, a União Soviética das sistemáticas purgas e atestar, na realidade concreta, da excelência das suas receitas.

Entretanto, podemos constatar como esta "educação pela fábula" nunca foi tão efectiva e exuberante como nestes nossos dias. Dispenso-me de enunciar algumas das principais. Quem tiver olhos que veja; quem tiver coração que pense.

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