terça-feira, dezembro 09, 2008

Costureirinhas da Sé



«Os carroceiros concluíram entre si um contrato de trabalho e decretaram a inutilidade do génio; uma época ulterior vai decerto dar-se conta de que os seus edifícios são amontoados de pedras, e não verdadeiros edifícios. (...)
Mas olhai-os, estes sábios, estas poedeiras extenuadas! Não são, decerto, naturezas "harmoniosas", mas cacarejam mais do que nunca, porque põem mais do que nunca. Os ovos são cada vez mais pequenos, muito embora os livros sejam cada vez mais volumosos. O resultado final e o mais natural é a "vulgarização" tão apreciada da ciência, ou seja, a sua "feminização", a sua "infantilização", dado que se tem a desonra de retalhar para um "público heterogéneo" a veste da ciência - neste momento, estamos a utilizar um vocabulário de alfaiate para designar uma actividade de alfaiate.»

- Nietzsche, "Da utilidade e dos inconvenientes da História para a Vida"

O nosso tempo já nem o nível de alfaiataria alcança. Proliferam, em regime de enxame, as costureirinhas. Costura de pequenos arranjos, bem entendido. De pequenos ajustes e coseduras em fatos comprados no pronto-a-vestir... ou a pensar, tanto faz.

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