«Já hoje é impossível sustentar que a "crise" do progresso seja um papão inventado pela "burguesia decadente", como eu pensava à data da primeira edição deste livro. Só uma mudança espiritual pode salvar a Humanidade do beco sem saída a que o progresso, a marcha, a está conduzindo. Sabemos que o Progresso é um avanço, uma marcha, mas não sabemos para onde. Estamos como cegos à beira do abismo. E se olharmos à escala do planeta e não à escala do ocidente europeu nem sequer é certo que haja uma avanço.
(...)
Desde que o "Progresso" passou a ser um problema, a História tal como a concebeu Condorcet e documentou Gordon Childe deixou de ter direcção e sentido, e tornou impossível o optimismo que marcava este livro. Hoje, a época é de procura, e muitas hipóteses rejeitadas como metafísicas e idealistas não podem já ser sistematicamente excluídas. Como um homem que estava na estrada e avançava por ela se lembrou de repente de perguntar para onde caminhava e não achou resposta, assim hoje nos achamos como no meio de um deserto de areia sem nenhuma pista de orientação.»
Desde que o "Progresso" passou a ser um problema, a História tal como a concebeu Condorcet e documentou Gordon Childe deixou de ter direcção e sentido, e tornou impossível o optimismo que marcava este livro. Hoje, a época é de procura, e muitas hipóteses rejeitadas como metafísicas e idealistas não podem já ser sistematicamente excluídas. Como um homem que estava na estrada e avançava por ela se lembrou de repente de perguntar para onde caminhava e não achou resposta, assim hoje nos achamos como no meio de um deserto de areia sem nenhuma pista de orientação.»
- António José Saraiva, in "prólogo de 1984 ao Dicionário Crítico"
Julgo que tem sido mesmo um dos principais dramas da Humanidade nos últimos séculos: é que as soluções, invariavelmente peregrinas, em vez de vencerem os problemas, juntam-se a eles. O que, tudo somado, resultará provavelmente no problema principal desta gente: o de, no que concerne aos problemas de fundo, confundirem solução com nutrição. Não os combatem: alimentam-nos; quando acabam de atacá-los com antibióticos, descobrem que, afinal, andaram a fortificá-los com vitaminas.
Razão para tamanho tresvario? Uma, pelo menos, brada à evidência: Contentam-se em ler os rótulos. E em tomar, lorpa e suicidariamente, o conteúdo pela embalagem.
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