Pacheco, o Ventríloquo

«Pacheco Pereira contestou, em declarações aos jornalistas, que Manuela Ferreira Leite tenha estado "em silêncio". »

Dá para imaginar a sofisticada argumentação desta galinha tele-poedeira:

"Não, nem pensar, ela não esteve em silêncio. De modo nenhum! Ela esteve foi em transe, em catalepsia, em coma induzido! Em resumo, ela esteve calada. Entregou-se ao mutismo. Andou afónica. Não tugiu nem mugiu. Cerrou hermeticamente a dentuça. Embatucou. Não fosse estarmos no verão, até poderíamos dizer que hibernara.

«"Afinal, para Pacheco, o silêncio não ocorreu, ou pelo menos não devia, na sua opinião, ter sido medido»

Não houve silêncio: o que houve foi uma ausência de ruído. Que não deveria, obviamente, ser medida, mas gravada para a posteridade. E que seria perfeita caso Pacheco Poedeira se calasse um breve instante que fosse.

«Para o conselheiro (da Manuela, ele, Pacheco), "a líder do partido deve falar não por regra mas por excepção".»

Tradução: A líder é a partenaire do líder, que é ele. Quem deve falar, palrar, perorar, grulhar, fazer ruído a todas as horas, dias, minutos e segundos é ele, o líder. À líder compete-lhe estar calada, velar silenciosamente, e por regra. Excepto naqueles momentos raros, sublimes, em que a ele, ao líder, lhe dá para pasmar o circo mediático. Passando, então, por especial prodígio, de loquaz a ventriloquaz.