Atentemos no TOP 10 mundial dos Bancos de Investimento:
1.ABN Amro Bank;
2.Merrill Lynch;
3.Goldman Sachs;
4.Deutsche Bank;
5.Morgan Stanley;
6.Bank of America;
7.UBS AG;
8.Bear Stearns;
9.Lehman Brothers;
10.JP Morgan Chase.
Portanto, sete bancos americanos, um alemão, um suiço e um holandês. Dos americanos, quatro foram à vida, isto é, desvalorizaram-se calamitosamente e foram absorvidos pelos sobreviventes. Fundiram-se, no melhor dos casos (ou seja, faliram com vaselina); foderam-se, no pior (quer dizer, faliram à bruta - o Lehman Bros).
Dizer eu aqui que pouco ou nada percebo de economia em nada adiantaria à questão. Afinal, como tem vindo a verificar-se monumentalmente, ninguém percebe. A começar pelos chamados "economistas" e pseudo-peritos em mercantilâncias, traficuras e outras trampolinices.
Atenho-me, pois, aos factos evidentes. Do estrito senso comum. E não consigo dissipar uma série de estranhezas óbvias. A primeira de todas resume-se numa pergunta elementar:
Porque é que enquanto os bancos predam impiedosamente o vulgar cidadão, a banal empresa, o simples país ou colectividade, ninguém se aflige e todos acham que é o Santo Mercado a funcionar, a civilização a galope, o Progresso em acção, mas quando os Bancos encetam o passo lógico seguinte, inevitável, fatal, e desatam, num típico frenesim de esqualos, a predar-se uns aos outros, toda a gente rompe a clamar que é o fim-do-mundo, (não sei se em cuecas, se em truces ou ceroulas), o armagedão das finanças, o apocalipse das bolsas?...
Eu diria que são apenas folclores típicos do planeta-anedota, onde as massas se babam e deleitam alvarmente diante do mega-herói global, o Super-Antropófago, mas caem numa choradeira delicodoce logo que o seu querido culmina e troca a antropofagia pela autofagia. Enquanto ele devorava apenas as pessoas, tudo bem, a civilização é assim mesmo; economia oblige, o lucro santifica ( certos ídolos são sanguinários). Mas quando desembesta a ingurgitar-se a si mesmo, ai que horror, que desgraça, que selvajaria! Não se admite: é canibalismo atroz! Banquete à custa do seu semelhante!... Um banco devora pessoas, não devora outros bancos!... É um pouco como dizer: os ricos comem os pobres, não comem outros ricos. Ou os lobos alambazam-se com cordeiros, jamais com outros lobos.
Tem que haver um mínimo de regras, senhores. Mesmo a injustiça, a impiedade mais sórdida, o banksterismo mais infame, tem que ter algumas. Mínimas, é certo. Ínfimas, por princípio. Inobserváveis à vista desarmada, seja. Mas, apesar de tudo, implícitas. Senão lá se vai o jogo. Lá rebenta o casino. Resvala da desordem organizada para o caos inorgânico.
Daí a actual histeria borrada. Já nada nem ninguém está a salvo. A desumanidade engendrou a desimunidade. O verniz da selva já não disfarça suficientemente a unharra do açougue. Diante da máquina metapredadora, todos, predadores e predados, viraram, abrupta e cruamente, súbditos; matéria-prima. E parece que certos estômagos de aço de ontem apresentam hoje sensibilidades e fragilidades inesperadamente piegas. Os apaixonados húmidos e militantes da véspera, então, os idólatras babosos do dia anterior, superam mesmo todo o arraial descabelante na lacrimijice patética. Dizer que choram peca por escasso: ganem. Ganem, quando não grunhem e guincham! "Ai, que o Super-Antropófago já não gosta de nós! Ai, que se engasgou! Ai, que perdeu o apetite!..."
-"Depressa! -Lembra-se um maduro, um nadador-salvador de papalvos, otários e outros bivalves colectáveis. - É indigestão de notinhas do "monopoly", aerofagia reiterada e galopante. Só um remédio o poderá salvar, restaurar-lhe as cores, regular-lhe as fressuras e miudezas: dinheiro a sério! Dinheiro dos contribuintes! Uma injecção urgente! Uma seringadela das antigas! Um megagigaclister pelo reto acima!..."
Os superpatetas são assim. Num instante, largam a dança ululante de roda do tótem e arvoram violinos lancinantes no tombadilho dum qualquer Titanic. Afinal, a baboseira economística nem a religião chega. Nunca chegou. Sempre foi superstição e crendice! Quando não pura endrómina nigromante. Pelo que os chamamentos à prece, as convocatórias à Fé e ao Estado-que-nos-acuda só suscitam a galhofa justa e mais que merecida. A Banca, bem vistas as coisas, há muito que vinha ensaiando a perversão ora convertida em chaga para peditório. Bem antes da boca largar às dentadas às próprias tripas, unhas e dedos, há muito que vinha tomando como repasto as próprias fezes. De resto, só já os comatosos e lobotomizados é que ainda duvidam que foi através da coprofagia que contraíu a autofagia.
É o fim do capitalismo? Não acredito. Está apenas a desembaraçar-se. Do casulo.
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