quinta-feira, junho 05, 2008

Como lidar com a opinorreia - II




Vai para três anos que aqui escrevi o seguinte:

«Ocorre-me aquela fábula do "Velho, o rapaz e o burro". Fizessem o que fizessem, dessem por onde dessem –os dois a pé e o burro folgado; os dois a cavalo e o asno derreado; o velho montado e o catraio a penates, ou vice-versa -, havia sempre alguém na populaça que, arvorada de escândalo ou mofa, bramia de sua justiça, discordava ou corrigia.
Dizem que a moral da história se resume a "cada cabeça sua sentença".
Depois de ponderar no assunto, não concordo. Para mim significa algo substancialmente diferente. Ou seja: Que só anda aos palpites da malta, aos caprichos da turba, quem se insere nestas três categorias específicas: ou está gagá, ou é imberbe, ou é burro.»
Além desta convicção, há outro preceito que muito estimo e venho praticando, sistematicamente, ao longo da minha vida adulta: desagradar a gregos e troianos, ou dito mais apropriadamente, a romanos e cartagineses. É certo que, regra geral, me deixa em guerra com o mundo. Mas põe-me em paz com Deus.
Os gregos, do tempo de Sófocles, chamavam-lhe "hedoné". Eu traduzo por "alegria de viver". E parece-me que não traduzo mal.


PS: Naturalmente, a "hedoné" dos antigos estava nos antípodas deste "hedonismo" hodierno. É como comparar o prazer de ouvir Bach com o prazer de cagar. Isto é, enquanto para eles o templo do prazer era o noos (o espírito), para nós é estritamente o corpo. Atribuir e confinar o prazer ao corpo é como atribuir e confinar a visão ao telescópio. A modernidade é uma pura e avassaladora masturbação de meios, um onanismo instrumental e metodológico. De operador da natureza, o homem converte-se em mero operário duma qualquer conjuntura, servente duma determinada máquina ou mecanismo.

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