sábado, março 22, 2008

O medo que sustenta a treva

«Em verdade te digo: esta mesma noite, antes de o galo cantar, vais negar-me três vezes.»
- Mateus, 26, 34

Neste dia que simboliza a treva, um testemunho ainda sobre o "entusiasmo", pela pena do último grande homérico do nosso tempo: Ernst Jünger.

«Todo o grito de ódio é suspeito, é fraqueza. Só a bravura reconhece a bravura!
Uma última coisa: o êxtase. Este, que é próprio do santo, do grande poeta e do grande amor, é também o apanágio da grande bravura. O entusiasmo arranca a lama viril para além de si própria, tão alto que o sangue ferve e bate contra as artérias, submerge o coração de espuma escaldante. É uma embriaguez acima de toda a embriaguez, um arrebatamento que faz soltar todos os vínculos. É um frenesim sem deferência nem limites, só comparável às forças da natureza. O homem torna-se então semelhante à tempestade que ruge ao mar em fúria, ao ribombar do trovão. Funde-se no Todo, precipita-se para as portas sombrias da morte, como um projéctil para o alvo. E, quando as vagas negras se entrechocam como para o engolir, há muito que perdeu consciência da Grande passagem. É como se a vaga tornasse a cair no seio do mar salgado.»
- in "A Guerra como experiência interior".

Como é óbvio, uma cultura da bravura é o contrário duma cultura do medo. Ou seja, é o contrário da nossa cultura actual. Melhor dizendo, desta anti-cultura. Voltarei a este assunto.

9 comentários:

  1. Bravos conheço muito poucos...
    Mais mulheres que homens.

    Boa Páscoa

    Isabel

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  2. Caro Dragão

    Como já deves ter constatado sou particularmente crítico em relação a alguns dos teus escritos.

    Contudo, existe sempre um momento na vida em que tem que se ser sério.

    Por isso te digo que estou curioso pela sequência da frase
    "Todo o grito de ódio é suspeito" (algo que já uma vez afloraste noutra ocasião quando escreveste

    "Se aponto um excremento, em poltrona ou altar, é para me rir dele. Para nos rirmos, eu e os que comigo gargalham. E quanto mais adorado, mais idolatrado e campeão da Jet-seita, mais riso merece. Mas a boa distância, de largo, que o alcance da pestilência não é pequeno. E sabendo que é sempre preciso redobrada atenção, não se vá descarrilar no bizantinesco caso da ralhadela desarvorada ao dejecto mais não soar que àquela velha e típica frase: "está verde, não presta, só os cães o podem tragar!")

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  3. Caro Timshel,

    as palavras minhas em que deves meditar não são essas. Tudo isso, irremediavelmente, te transcende e sobrevoa a grande altitude. Enfim, são coisas que não te dizem respeito.
    Concentra-te antes nesta frase:
    «beatos exibicionistas, papa-hóstias de passerelle e demais top-models da virtude.»
    Estas sim, estas é que te convêm. Procura ver se te assentam.

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  4. Cara Isabel,

    não me admira essa sua constatação. Dado que os homens estão cada vez mais amaricados, não resta às mulheres alternativa senão virilizarem-se. Eu até imagino a cara dum espartano ou dum romano clássico se ressuscitasse e visse que nós até já mandamos as mulheres para a guerra.

    Um excelente Páscoa também para si.

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  5. não me assentam bem

    estão um pouco apertadas

    és um alfaiate de má qualidade

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  6. pelo contrário, sou um benemérito: tanto quanto uma fatiota, forneço-te um bom estímulo para fazeres exercício. Mental. Estás um verdadeiro bácoro.
    E enganas-te se pensas que podes resolver isso apenas com jejuns e iogurtes.

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  7. É das hóstias. São bombas calóricas. Devias também papar umas. Faz bem à bílis.

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  8. A Guerra é tanto de Homens como de Mulheres, assim como o Serviço Militar.
    A Nação deve estar "em Armas"!

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  9. "Um cobarde é alguém que se fia que não faz. E não faz mesmo. Vive com isso contente sem pudor. De um asco de felicidade. Um tímido é diferente. Um tímido fia-se que não consegue. Odeia-se e despreza-se por isso mas, para não conseguir, faz coisas que fazem o mais bravo dos mortais tremer e desvanecer de horror.
    É possível um covarde se forçar à bravura. Mas um tímido não se força, farta-se. E quando se farta, qual irascível serpente, abraçada ao cadáver que outrora foi, olhos flamejantes, sem pejo ou temor algum da morte, marcha da tumba contra o Inferno. Porque finalmente Vive..."

    Morrer até não poder mais...

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