Um leitor pede-me para comentar a reportagem da “Sábado” cuja capa podemos ver em epígrafe.
Sendo certo que não leio essa revista, nem tenciono quebrar tão sã regra para perscrutar uma tal reportagem, quero todavia tecer alguns considerandos, que espero duma vez por todas esclarecedores, sobre a religião em geral e a Igreja Católica em particular.
Pois bem, sobre as religiões, partilho da honestidade schopenhaueriana, ou seja, considero-as idosas e venerandas senhoras para com as quais devemos usar sempre da maior amabilidade e deferência, mesmo quando, com todos os cuidados e obséquios, pretendemos afastá-las de assuntos que, claramente, não lhes dizem respeito e só lhes causam desnecessário sobressalto e confusão.
Sobre a Igreja, perfilho a claridade nietzschiana, na exacta medida duma citação que ainda há bem pouco aqui fiz: «uma Igreja é antes de tudo um edifício de dominação hierárquica que assegura o plano superior ao espírito e acredita suficientemente no poder do espírito para se proibir o recurso às grosserias da violência; só isso bastaria para fazer dela uma instituição mais nobre do que o Estado.»
Dito isto, quero repetir, sem margem para dúvidas, que não sou católico e desprezo olimpicamente beatos exibicionistas, papa-hóstias de passerelle e demais top-models da virtude. Mas o povo português é católico, pelo menos desde a sua fundação. Ora, eu pertenço ao povo português, não é o povo português que está refém do meu umbigo, nem tem que andar aos caprichos, ganas ou aleives da minha ilustre pessoa, por mais entranhados, berreirados e recorrentes que sejam. Nessa medida, defenderei o catolicismo como defenderia o território caso fosse invadido e vandalizado por estrangeiros. Portugal é católico (não é católico como os espanhóis, Deus nos proteja!, mas é católico), e eu, embora não o sendo a título pessoal, sou-o, por dever de inerência, a título colectivo. Da mesma forma que nunca ninguém me obrigou a ser católico, nem eu admitiria tal coisa, também não admito que alguém, levado por não sei que fornicoques luciferozes, ou agroturismos ideológicos, obrigue todo um país a ser o contrário daquilo que congrega a sua própria história e cultura.
Admito plenamente o direito dum indivíduo a não ser convertido, até porque qualquer conversão à força é uma falsa conversão. Mas se converter à força um indivíduo é inadmissível, mais inadmissível é desconverter à força, à surrelfa e à falsa-fé um povo inteiro.
No entanto, não é difícil perceber tão ogresco e deslavado empreendimento. A lógica do batráquio que sonha arvorar-se bovino é mais que evidente. Basta atentarmos no que essa escumalha mental tem para colocar a substituir a Igreja: o Estado. O sacrossanto e descomunal Estado, nem mais. O omnipresente, omnisciente e omnipotente Estado. Em rigor: a grandessíssima Bosta & Besta do Estado! Quer dizer, depois de ter assassinado e usurpado a Nação, o Estado atira-se agora ao baluarte que resta – à Igreja. Depois de tragar a estrutura física de Portugal, trata de lançar a dentuça venenosa e o bandulho ávido à estrutura moral. Armado em pseudo-nação, o Estado quer agora também assumir-se como pseudo-Igreja. Daí a pseudo-religião laica. E a pseudo-democracia como cobertura de chantilly para o totalitarismo aos molhos. O bife do lombo a engodar a estricnina.
Mas, afinal, o que raio vem a ser o Estado?
Basta pegarmos na definição Nietzschiana de Igreja – “um edifício de dominação hierárquica que assegura o plano superior ao espírito” – pô-la de patas para o ar, às avessas e aí tendes o Estado: “um edifício de dominação hierárquica que assegura o plano inferior do espírito”.
Por conseguinte - e sobre isto não me restam grandes dúvidas -, à Igreja, contra aquilo que lhe é inferior, compete-nos defendê-la. Pois no dia em que ela cair de vez, não restará mais quem nos defenda desta Besta. Ou melhor, destas bestas. Porque o seu nome é Legião.
Posto isto, resta-me desejar uma Feliz Páscoa a todos os leitores e amigos desta casa, cultivem eles a religião, política ou filosofia que muito bem entendam.
Apesar de eu também não ser Católico, considerio a religião como um "mal necessário", pois é á única maneira de por um freio aos instintos animalescos do ser humano.
ResponderEliminarFeliz Páscoa para o Grande Dragão. Mesmo não acreditando, seria muito bom que tivesse existido. ;OP
Páscoa Feliz, Dragão.
ResponderEliminarLucido, muito.
ResponderEliminar"Portugal é catótico" (algures aí no post)
ResponderEliminarnão acredito em gralhas, muito menos draconianas
poratnto tinha que descobrir o que querias dizer com tão enigmática expressão
aqui
http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&rls=GGLL%2CGGLL%3A2008-02%2CGGLL%3Aen&q=cat%C3%B3tico&btnG=Pesquisar&meta=
recebi algumas pistas
depois no priberam descobri que possivelmente querias dizer nomeadamente "cifótico", "cetónico", "carótico", "calórico" ou "catártico"
parecia-me ser esta última, indiscutivelmente a tua intenção
fui portanto ver a definição
"catártico
do Gr. kathartikós
adj.,
relativo à catarsia;
diz-se das substâncias que tem qualidades purgativas mais enérgicas que os laxantes e menos que os drásticos;
s. m.,
medicamento que tem essas propriedades."
acertei
espero que faças bom proveito
????
ResponderEliminarBoas amêndoas!!!
T.S. deixa lá de snifar o insenso pá, come antes uma beata fresca.
A.H.
incenso! incenso!
ResponderEliminarBoa Páscoa.
ResponderEliminarExatíssimo coletivo.
Aleluia no singular.
Takitali
Há uma primeira vez para tudo na nossa miserável escorrência para o Hades.
ResponderEliminarVer-te paramentado é um pouco inusitado.
Como disse um filósofo qualquer com uma bebedeira tremenda: Que se foda!
O que é facto é que faz sentido que a besta apocalíptica é legalista e laica/maçónica.
Sendo católico, é esta a ideia que partilho da Igreja que temos, em Portugal ( e também noutros lados, porque as semelhanças são impressionantes, quando as queremos ver).
ResponderEliminarE não preciso de ter lido Nietzsche, para pensar assim...