Por conseguinte, ó caro Miguel, sejamos francos: o seu postal (e respectivas sequelas) não é de falta de mérito que enferma: é de falta de moral. E inerentemente de credibilidade; ou seriedade, se preferir. O Mérito da forma e o mérito de alguma verosimilhança no conteúdo são evidentes e seria eu o último a contestá-los. O problema está na fragilidade moral do autor para o exercício, amplificada pelo exagero zelote na atitude. E estou a ser benévolo no adjectivo por especial consideração ao alvo e capital recomendação do meu imediato: “tu vê lá não maltrates muito o nosso benfeitor, esse verdadeiro galeão dos ovos de ouro!”...
De resto, forneço-lhe já um exemplozinho muito concreto e vá preparando a pomada e o gelo. Vossência, no fulcral, vitupera aqueles canhestros ancestrais por tudo terem destruído e nada terem restaurado. Nas suas eloquentes palavras, o que naquela “geração de literatos e diletantes”o incomoda e lhe causa biliosa dispepsia “é a afectação e o desprezo que votou a tudo aquilo que nasceu com assinatura portuguesa, um ódio quase doentio ao povo comum, a xenofilia provinciana, o tom doutoral com que foi ridicularizando, diminuindo e delapidando tudo”. Ora, isto deixa o seu leitor habitual baralhado e a interrogar-se: “mas este digníssimo senhor está a fazer crítica ou auto-crítica? Está zangado com os anciãos ou com ele próprio? Desatou aos tiros aos alicerces ou à consciência pesada? Porque, repare, logo mais adiante, o caro amigo confessa solenemente: “Salvar o país é salvar-nos da mediocridade, da pobreza e do miserabilismo. Tenho, como todos, vergonha da generalidade dos portugueses...” Não nota o paralelismo? Bem vê, eles, aqueles notáveis trapalhões, também tinham vergonha da generalidade dos portugueses e também se predispuseram a salvar o país, por intermédio dessa afanosa (e recorrente) operação cosmética que consiste em salvar Portugal dos portugueses. Devia pois ser vossência mais afável com os seus egrégios bisavós. E arquétipos.
Até porque se partilhavam a sua ideia, escasseavam, clamorosamente, da riqueza opulenta das suas ferramentas. Estavam sózinhos, cercados e desamparados contra uma desbordante maré que acabou por arrastá-los e submergi-los. O Miguel, em contrapartida, permite-se esses luxos optimistas, consagra-se a essas sobrancerias culturais sobre aqueles desvalidos infelizes porque se sente rodeado, escorado e estribado, contra a generalidade dos portugueses vergonhosos (entre os quais milita desventurado este seu criado, esbracejando com denodo pelos turbilhões da maré promovida entretanto a enxurrada), por uma sólida plêiade de coadjutores estrénuos e montadas vigorosas. Assim, repassando fugazmente em memória alguns desses instrumentos providenciais em quem o estimado amigo, ao longo dos tempos e ao sabor das conjunturas, tem depositado loas e sumptuosas condecorações, ouso destacar, a título meramente emblemático, o Pacheco Pereira, o António Barreto, o Paulo Portas, o Manuel Monteiro, o Santana Lopes, entre outros vultos imensos da cultura, da moral, dos bons costumes, da coerência, do portuguesismo e do génio puro redentor da nossa pátria. Deve estar, Vosselência, lembrado, decerto; não me force a ter que recomendar-lhe os seus próprios arquivos blogográficos ou a ter que andar eu próprio, de cana e anzol, à pesca neles de tão fina flor aos molhos. Sou pirata, não sou peixeiro.
O resultado, porém, está à vista e era fatal. Tendo gasto a bateria de encómios e medalhas de mérito com gigantes destes, só lhe acabariam por sobrar menoscabos e desdéns para aqueloutros pobres diabos de há cem anos. Azar o deles. Sorte a nossa.
De resto, forneço-lhe já um exemplozinho muito concreto e vá preparando a pomada e o gelo. Vossência, no fulcral, vitupera aqueles canhestros ancestrais por tudo terem destruído e nada terem restaurado. Nas suas eloquentes palavras, o que naquela “geração de literatos e diletantes”o incomoda e lhe causa biliosa dispepsia “é a afectação e o desprezo que votou a tudo aquilo que nasceu com assinatura portuguesa, um ódio quase doentio ao povo comum, a xenofilia provinciana, o tom doutoral com que foi ridicularizando, diminuindo e delapidando tudo”. Ora, isto deixa o seu leitor habitual baralhado e a interrogar-se: “mas este digníssimo senhor está a fazer crítica ou auto-crítica? Está zangado com os anciãos ou com ele próprio? Desatou aos tiros aos alicerces ou à consciência pesada? Porque, repare, logo mais adiante, o caro amigo confessa solenemente: “Salvar o país é salvar-nos da mediocridade, da pobreza e do miserabilismo. Tenho, como todos, vergonha da generalidade dos portugueses...” Não nota o paralelismo? Bem vê, eles, aqueles notáveis trapalhões, também tinham vergonha da generalidade dos portugueses e também se predispuseram a salvar o país, por intermédio dessa afanosa (e recorrente) operação cosmética que consiste em salvar Portugal dos portugueses. Devia pois ser vossência mais afável com os seus egrégios bisavós. E arquétipos.
Até porque se partilhavam a sua ideia, escasseavam, clamorosamente, da riqueza opulenta das suas ferramentas. Estavam sózinhos, cercados e desamparados contra uma desbordante maré que acabou por arrastá-los e submergi-los. O Miguel, em contrapartida, permite-se esses luxos optimistas, consagra-se a essas sobrancerias culturais sobre aqueles desvalidos infelizes porque se sente rodeado, escorado e estribado, contra a generalidade dos portugueses vergonhosos (entre os quais milita desventurado este seu criado, esbracejando com denodo pelos turbilhões da maré promovida entretanto a enxurrada), por uma sólida plêiade de coadjutores estrénuos e montadas vigorosas. Assim, repassando fugazmente em memória alguns desses instrumentos providenciais em quem o estimado amigo, ao longo dos tempos e ao sabor das conjunturas, tem depositado loas e sumptuosas condecorações, ouso destacar, a título meramente emblemático, o Pacheco Pereira, o António Barreto, o Paulo Portas, o Manuel Monteiro, o Santana Lopes, entre outros vultos imensos da cultura, da moral, dos bons costumes, da coerência, do portuguesismo e do génio puro redentor da nossa pátria. Deve estar, Vosselência, lembrado, decerto; não me force a ter que recomendar-lhe os seus próprios arquivos blogográficos ou a ter que andar eu próprio, de cana e anzol, à pesca neles de tão fina flor aos molhos. Sou pirata, não sou peixeiro.
O resultado, porém, está à vista e era fatal. Tendo gasto a bateria de encómios e medalhas de mérito com gigantes destes, só lhe acabariam por sobrar menoscabos e desdéns para aqueloutros pobres diabos de há cem anos. Azar o deles. Sorte a nossa.
PS: Vossência, que andou também lá pelas fileiras decerto recorda como apelidávamos a "medalha de mérito"...? Pois, isso mesmo: "Vinhos e petiscos".
"Vinhos e petiscos"
ResponderEliminarSenhor Dragão, e Gajas? Não???
Acho que o sr. Miguel CB tem carradas de razão. Por muito bons escritoers que fossem, eles não passavam de uns imbecis no que respeita à salvação do país que ajudaram a enterrar.
ResponderEliminarPedro Matias
Lisboa
Enquanto a industria nacional não inventar uma daquelas máquinas tecnológicas como por exemplo usam nas linhas de enchimento para ver se as garrafas e os liquidos estão em conformidade, rejeitando os defeitos,para que todos os políticos sejam automaticamente "analizados" antes de serem enviados para o "consumo" nada feito.Só teremos gato por lebre.
ResponderEliminarDragão, eu sou fã, ouso dizer amigo, dos lados melhor e pior do Miguel Castelo-Branco há já muitos meses.
ResponderEliminarSão adesões afectivas e estilísticas que não se explicam facilmente. Mas há encontros felizes e encontrar o Combustões só me fez bem. Graças a ele, estou mais próximo do que alguma vez imaginei das teses monárquicas, mas segundo o que delas postula o Miguel, naturalmente.
Verte-se o amigo naquele ou naquilo que ama, creio que é sempre assim. Converte-se no outro. Se o outro se impermeabiliza judicativo a nós, que se foda o amigo, também é verdade. Tu o sabes bem.
Mas a ti, que também conheço e leio há imenso tempo já e comecei por espicaçar jocoso, também aprecio imenso as piratagens e, nesta contenda, não sei por quem tomar partido. Melhor, não quero saber de tomar partido.
Tomo partido por mim: não baterei em mortos. Não responsabilizarei barrigas jantantes do passado. Não julgarei improvisadores e estetas e talvez-intelectuais. Não farei o balanço poético patético dos suicidários ilustres mesmo que de apenas um. Não me reverei neles nem reverei este Pauís Português numa só página deles. Não existe contaminação genética pelos de 70. O que há é défice de contágio, porque a provocação é normalmente potenciadora de transformação ainda que por rejeição e por reacção.
Não se maldiz o Passado. Faz-se!
(Lamento que esta tua caixa de comentários não se caracterize por uma mais vasta e merecida vivacidade com participação mental significativa de muitos! Anda tudo a masturbar-se, não há dúvida!)
Terás de acostar a mais bojudos veleiros-blogues! Terás de pilhar activamente as putas das certezas de muitos, ó Pirata! Um Pirata é ocioso e belicoso. Não se fica!)
PALAVROSSAVRVS REX