Manuel Fernandes Cabelo Empastado era de direita. Fernando Manuel com Dry-Look era de esquerda. Nandel Ferman com Meda Capilar era anglodemocrata liberal.
Naquele dia, discutiam o local onde deveria decorrer o próximo jantaréu de confratricidiação.
-“Em casa do Manuel Fernandes não pode ser!” – Proclamava Fernando Manuel. – Tem os armários cheios de esqueletos!... Aquilo dá calafrios. Um tipo nem se consegue concentrar nos argumentos, quanto mais na tese!...”
-“Bem, na do Fernando Manuel também não entro! – Ripostou o acusado . – Debaixo dos tapetes e da carpetes é só ossadas. Um tipo não anda, crocanteia. Já não falando atrás de televisão, que mais parece um aterro carcaçário. Impossível debater num tal necrotério!...”
-“Jantareia-se na minha. – Conciliou Nandel, afagando a trunfa. – Garanto que nem os armários nem os tapetes hospedam tais horrores. E na véspera, podeis ficar desde já seguros, mandarei fazer uma desinfestação, logo seguida de esterilização e aromoterapia.“
Tentados pela propaganda, até porque nunca lá tinham estado, Manuel Fernandes e Fernando Manuel concordaram. Seria em casa de Nandel Meda Capilar.
Foi assim que no dia combinado, à hora costumeira, Manuel Fernandes Cabelo Empastado e Fernando Manuel com Dry-Look compareceram em casa de Nandel Ferman Sobrejuba Pujante, para o sarau logomáquico.
Numa apresentação prévia do imaculado palco, Nandel esmerou-se a exibir a higiene completa que reinava em armários e tapetes. Nem sinal de esqueletos; nem resquício de ossadas. Tão pouco odores ou aromas nauseabundos, sequer longínquos; ou gemidos subterrâneos. Tudo aquilo estava um brinco de meter inveja a uma enfermaria vip. Mesmo do sótão, por mais que apurassem os ouvidos, nenhum rumor de fantasmas acorrentabundos gotejava.
A única minudência vagamente contraditória deste estado idílico aconteceu quando Manuel Fernandes cabelo empastado, no seu jeito impetuoso característico, abriu subitamente uma porta e levou com uma autêntica avalanche de ossadas e restos humanos variados em cima. De facto, num aluvião inaudito, centenas de peças dum qualquer puzzle esquelético, claramente armazenadas em regime de ultralotação, irromperam pela nesga aberta.
Enquanto os bombeiros não chegavam para resgatar o rival ao desmoronamento, Fernando Manuel aproveitou para zurzir sardonicamente o dono da casa:
-“Ah, com que então não tinha esqueletos no armário!... Grande aldrabão!... Não tinha era poucos.”
-“Desculpe, mas não menti! Era a pura das verdades! – Protestou Nandel, serenamente. – Disse que não tinha armários com esqueletos e, como, aliás, tinha acabado de mostrar, nem um metatarsozinho de criança neles consta!...”
- “Ah, mas ainda insiste no tremendo mentiroteio... É preciso ter uma distinta lata!- Escandalizou-se Fernando Manuel com Dry-Look. – Então, este monte de osteo-entulho que acaba de desabar em cima do Manuel Fernandes cabelo empastado, jorrou de dentro de quê? Foi só ele abrir a porta e catrapumba!...”
- “Pois, precisamente. – Tornou Nandel Trunfa Levedada. – Isso só corrobora o que acabo de dizer. A porta que ele abriu não é de nenhum armário.”
- “Ora essa!, não é de nenhum armário?!!”
- “Não. É da casa-de-banho."
Naquele dia, discutiam o local onde deveria decorrer o próximo jantaréu de confratricidiação.
-“Em casa do Manuel Fernandes não pode ser!” – Proclamava Fernando Manuel. – Tem os armários cheios de esqueletos!... Aquilo dá calafrios. Um tipo nem se consegue concentrar nos argumentos, quanto mais na tese!...”
-“Bem, na do Fernando Manuel também não entro! – Ripostou o acusado . – Debaixo dos tapetes e da carpetes é só ossadas. Um tipo não anda, crocanteia. Já não falando atrás de televisão, que mais parece um aterro carcaçário. Impossível debater num tal necrotério!...”
-“Jantareia-se na minha. – Conciliou Nandel, afagando a trunfa. – Garanto que nem os armários nem os tapetes hospedam tais horrores. E na véspera, podeis ficar desde já seguros, mandarei fazer uma desinfestação, logo seguida de esterilização e aromoterapia.“
Tentados pela propaganda, até porque nunca lá tinham estado, Manuel Fernandes e Fernando Manuel concordaram. Seria em casa de Nandel Meda Capilar.
Foi assim que no dia combinado, à hora costumeira, Manuel Fernandes Cabelo Empastado e Fernando Manuel com Dry-Look compareceram em casa de Nandel Ferman Sobrejuba Pujante, para o sarau logomáquico.
Numa apresentação prévia do imaculado palco, Nandel esmerou-se a exibir a higiene completa que reinava em armários e tapetes. Nem sinal de esqueletos; nem resquício de ossadas. Tão pouco odores ou aromas nauseabundos, sequer longínquos; ou gemidos subterrâneos. Tudo aquilo estava um brinco de meter inveja a uma enfermaria vip. Mesmo do sótão, por mais que apurassem os ouvidos, nenhum rumor de fantasmas acorrentabundos gotejava.
A única minudência vagamente contraditória deste estado idílico aconteceu quando Manuel Fernandes cabelo empastado, no seu jeito impetuoso característico, abriu subitamente uma porta e levou com uma autêntica avalanche de ossadas e restos humanos variados em cima. De facto, num aluvião inaudito, centenas de peças dum qualquer puzzle esquelético, claramente armazenadas em regime de ultralotação, irromperam pela nesga aberta.
Enquanto os bombeiros não chegavam para resgatar o rival ao desmoronamento, Fernando Manuel aproveitou para zurzir sardonicamente o dono da casa:
-“Ah, com que então não tinha esqueletos no armário!... Grande aldrabão!... Não tinha era poucos.”
-“Desculpe, mas não menti! Era a pura das verdades! – Protestou Nandel, serenamente. – Disse que não tinha armários com esqueletos e, como, aliás, tinha acabado de mostrar, nem um metatarsozinho de criança neles consta!...”
- “Ah, mas ainda insiste no tremendo mentiroteio... É preciso ter uma distinta lata!- Escandalizou-se Fernando Manuel com Dry-Look. – Então, este monte de osteo-entulho que acaba de desabar em cima do Manuel Fernandes cabelo empastado, jorrou de dentro de quê? Foi só ele abrir a porta e catrapumba!...”
- “Pois, precisamente. – Tornou Nandel Trunfa Levedada. – Isso só corrobora o que acabo de dizer. A porta que ele abriu não é de nenhum armário.”
- “Ora essa!, não é de nenhum armário?!!”
- “Não. É da casa-de-banho."
Gostava mesmo de perceber isto.
ResponderEliminarConheci perfeitamente o Manuel Fernandes: cabelo empastado. Não morava longe do preto de cabeleira loura ou branco de carapinha, não é natural. Eu próprio usava Brylcream, mas lá por termos esqueletos, seja no armário seja na casa de banho, ou no tripeiro quarto de banho, cuja água vai dar ao Douro, que desagua no Atlântico, sem dizer três vezes água vai. Isto não é uma limpeza, explica lá melhor, ó Dracone.
Eu cá não percebi puto. Isto deve ser só para inteligentes. Requeiro explicação.
ResponderEliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarEu percebi e passo a explicar (quem sabe faz, quem não sabe explica): os três têm esqueletos nos armários e dois deles (os dois primeiros) assumidamente. O terceiro, o gajo liberalengo, também os tem mas não os assume e usa de subterfúgios para se mostrar limpo e honesto. Há um que eu conheço que se farta de ser parecido com este. (Eu não sou nenhum daqueles. Estou careca de saber disso).
ResponderEliminarAgora a sério: um imponente texto, aliás, como todos...