«Entre outras cousas, o sr. deve ter ouvido chamar traidor a Paiva Couceiro. Deve também ter ouvido denunciar e conspurcar uma frase, que se atribui aos nossos monárquicos, de que "antes Afonso XIII que Afonso Costa". (...)
Paiva Couceiro é um espírito ferrenhamente tradicionalista. Podemos não concordar - já disse que não concordo - com esse conceito tradicionalista. Mas ele é sem dúvida um conceito de nacionalidade. É preferível a conceito nenhum. Dentro do tradicionalismo pode haver patriotismo; fora dele, e não havendo a criação de novos ideiais absolutamente nacionais, não vejo que patriotismo possa haver. Paiva Couceiro viu erguer-se uma instituição, a que alguns maduros e um grande número de gatunos chamaram «a nossa querida República» - e deve ter sentido, senão o pensou lucidamente - que essa instituição vinha arrancar tudo quanto restava -e não era muito - das tradições nacionais, sem lhes substituir absolutamente nada que mostrasse que era uma república portuguesa. Couceiro viu, ou deve ter sentido, que tal República, ou que quer que fosse, representava, nessas condições, um atentado contra a Pátria. Era um factor de dissolução nacional. Não agia senão destrutivamente sobre quanto se pudesse considerar como energizador das almas portuguesas, como congregador das almas portuguesas numa única lusitana. Por isso o tradicionalista Paiva Couceiro sentiu a necessidade de conspirar. Ele foi sempre um grande soldado e um grande patriota; continuou sendo o mesmo soldado e o mesmo patriota. A sua superioridade moral sobre os estrangeiros da nossa República é incomensurável. No seu tradicionalismo exaltado, ele é, apesar de tudo, um português. Eles não são nada, nada, nada. Estrangeiros e estrangeiros estúpidos; que nem sequer vieram trazer à administração pública aquela honestidade cuja ausência na monarquia lhes serviu de trampolim para as campanhas oposicionistas. A monarquia portuguesa, é certo, era um regimen de ladrões e incompetentes. Mas era um regimen que estava cá há oito séculos, que, pelo menos exteriormente, estava identificado se não com a nacionalidade, pelo menos com a existência ostensiva da nacionalidade. Substitui-lo por um regimen que, além de não ser nacional de modo nenhum, continuava as mesmas tradições (estas sim!) de gatunagem e de incompetência, agravando, se talvez não a gatunagem, por certo a incompetência - eis uma cousa para que não valia a pena ter derramado sangue, perturbado a vida portuguesa, criado maior soma de desprezos por nós do que os que já havia no estrangeiro.
Não concordo, talvez, nem com uma única das ideias que formam a base do conceito português de vida que Couceiro tem. Mas reconheço nele um português. Como português, não posso deixar de, por isso, simpatizar com ele. Nem por sombras me ocorre que possa haver comparação entre a sua atitude - se bem que para mim, errónea - e a estrangeirada atitude a que estes bandalhos da República chamam "patriotismo". »
- Fernando Pessoa, "Da República"
Diário da República, 2ª série - Nº 191 - 3 de Outubro de 2007 - pag. 28749
ResponderEliminarAviso nº 18915/2007
Concede a nacionalidade portuguesa, por naturalização, a Fode Mané
Mais um transmontano de 5º geração!...
Resumindo:tirando aquele tenebroso mal entendido salazarista,com a ideia fixa de fazer disto um sítio recomendável com uma fauna mínimamente séria,regressou-se alegremente à ladroagem e à incompetência.
ResponderEliminarMuito pior!
ResponderEliminarAgora até se criam "portugueses". Basta virem dalguma puta que os pariu e dizerem umas palvras em portocriolês ou portocongulês (ou doutra preuta que os pariu).
Entretanto os mesmos tratantes criam um tratado para acabar com algum resto de independência que poderia haver em ralação aos mesmos franceses e ingleses.
relação (quero alho!!)
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