segunda-feira, setembro 10, 2007

O Criador e as criaturas ou O Génesis recalcitrante




A propósito disto e disto, convém dizer o seguinte:

A blogosfera, só para citar o departamento da internet que maiores azias parece ciclicamente gerar, é, em Portugal, um produto e um reflexo da sociedade portuguesa actual. E, assim sendo, é natural - e fatal - que fervilhe de troca-tintas, medíocres, falsários, poltrões, sicofantas, sabujos, toinos, velhacos, tartufos, rançosos, ciumentos, manteigueiros, garganeiros, vira-casacas, mainates, badamecos, manhosos e rapa-tachos. Isto, já não falando nos nepotes, ratões, compadres, pesporrentes, minotauros, sonsos, anões talentosos, oxiúros, mimosos, funâmbulos, zombis, balões, gastrópodes, egoflatulentos e bacocos. Tudo isso, toda essa fauna tão luxuriante quão monótona, não nos deve espantar. Surpreendente, isso sim, senão mesmo bizarro, só o facto recorrente de Pacheco Pereira, cercado de tantas imitações suas, mimado de tanta réplica esforçada, em vez duma mais que justificada vaidade, estadear um inexplicável e crónico amuo. Talvez porque a blogosfera é um reflexo, mas não é - ainda e apenas - o espelho: a superfície liquefeita, tenebrosa, caótica - mas passiva -, onde ele estimaria de se debruçar demiúrgico, aspergindo universões luminosas através do gotejar apofântico do seu Verbo pirilampejante.

Resta-lhe, assim, nesta conjuntura irrequieta, reforçar a nostalgia com o vil apetite. E fechar o círculo, tornando na velhice ao exacto esplendor baboso onde se iniciara na juventude: na visão idílica e apaziguante dessa República Popular da China controleira e totalitária. Vira-se a casaca, mas fica sempre a chinela. E o pézinho fugidio. E refém.


PS: Esqueci-me de referir os mongos. A todos eles, peço desculpa pelo lapso.



1 comentário:

  1. Esqueci de apontar a antologia que este texto encerra. Um pequeno tratado epistemológico.

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