O Timshel leu um artigo no Jornal de Negócios e está preocupado com o fosso entre ricos e pobres, em Portugal. Está a aumentar todos os dias, dizem. Compete já com o buraco do Ozono. Temos o maior fosso da Europa. Os franceses têm a Eurodisney, nós temos o fosso. E o Timshel, se há-de estar orgulhoso, lastima-se, arrepela os cabelos. Quem diz o Timshel, diz um ror de gente sempre aos gritos, às reivindicações, por tudo e por nada. Esta malta nunca está satisfeita. Revolucionam, contra-revolucionam, reformam, contra-reformam, nacionalizam, privatizam, descolonizam, encolonizam, elegem, deselegem, nomeiam, desnomeiam, decretam, derrogam, partidarizam, repartidarizam e quando já têm o maior fosso da Europa, ainda não estão contentes, ainda é pouco. A megalomania está-lhes na massa do sangue, a ostentação esporeia-os à desfilada... Se bem os conheço, o maior fosso da Europa nem lhes cabe na cova do dente: não descansarão enquanto não tiverem o maior fosso do Mundo. Espero que consigam. Se alguém o merece, são eles. Todos. Têm sido incansáveis.
Mas o facto de ainda não o terem (e desfrutarem) também não é caso para tanta impaciência e desespero. Que diabo, sempre é o maior da Europa. Podiam era rentabilizá-lo. Organizar campanhas de promoção turística: "Conheça Portugal, o maior fosso da Europa!..."; "faça férias inesquecíveis, conheça África e o Brasil em plena Europa!"; "Portugal, o fosso europeu de hoje, o abismo mundial de amanhã!", etc,etc.
Portanto, nada de derrotismos e frustrações: o fosso não é pequeno, está é subaproveitado. Deviam apostar mais no outsourcing.
Agora a terminologia que certo jornalismo (e bloguismo) usa é que está totalmente desadequada e só revela impenitente má fé. O nosso fosso, o maior da Europa, orgulho do nosso saber e espírito empreendedor, não é -de maneira nenhuma! - um fosso entre ricos e pobres. Convinha que metessem isso duma vez por todas nas cabeças casmurras. Toda a gente sabe que desde o dia 25 de Abril de 1974, deixaram de haver pobres em Portugal. Pobres e problemas. Isso era no tempo do fáxismo, da longa noite salazarenta. Desde então, dessa data milagreira, dessa manhã radiosa, a pobreza foi proibida e os problemas ilegalizados. Passámos a ser todos ricos, só que uns em acto e outros em potência. E os problemas, sem excepção, foram todos convertidos, genialmente, em resoluções a médio e longo prazo. Mais a longo, aliás. E aí reside mais um dos motivos de orgulho da nossa raça: não só temos o maior fosso da Europa, como o nosso médio prazo é o mais longo e o nosso longo o mais longínquo. E todos os dias conseguimos que se afaste um pouco mais. É uma modernização que nunca mais acaba! Um progresso que só visto!... Até o longínquo está cada vez mais remoto.
Que significa então, e efectivamente, o nosso portentoso fosso? Significa, tão só, que já somos potencialmente o país mais rico da Europa e, a este ritmo, com tanta proficiência junta, ainda nos tornamos num dos mais potencialmente ricos do hemisfério Norte e, logo a seguir, do mundo. Uma vez instalados no trono do planeta, trataremos da galáxia, podem estar seguros. Empreitadas é connosco.
Por isso mesmo, o facto evidente dos ricos potenciais, entre nós, serem cada vez mais e os ricos actuais cada vez menos não deve de modo algum desmoralizar-nos. E ainda menos induzir-nos em escândalos impertinentes. Pelo contrário, cenário mais animador e auspicioso seria difícil. Atesta como estamos no bom caminho: de potência da riqueza (a maior da Europa) abalançamo-nos a superpotência mundial. A hegemonia está já ao virar da esquina.
O futuro é nosso. E é glorioso. Os augúrios, de resto, são mais que manifestos: todos nós, ricos, reinaremos - os activos serão hiperactivos; e os potentes... superpotentes.
Não há que enganar: é sempre a descer. E a descer, já lá diz o povo, todos os santos ajudam.
dragão
ResponderEliminarjá disse e torno a repetir: és genial, és incomparável e és insuperável no estilo
pior: admiro quem te vem aqui comentar, porque eu, quer concorde quer discorde do que dizes, fico esmagado pelo estilo e não consigo encontrar um comentário apropriado
mas esta gloriosa baboseira que acabaste de escrever (deliciosa como sempre), bem espremida, não tem nada a não ser vapor ( que, felizmente, não é nauseabundo como por vezes acontece)
A meia dezena de comissões governamentais mais as ong afins são nitidamente insuficientes para que tenhamos uma ideia clara da problematica riqueza/pobreza e como devem as elites eleitas "regular" o assunto com umas leis adequadas e milagrosas...
ResponderEliminarDeve portanto ser reforçada a componente "estudo" e "análise" pelo pessoal habilitado obviamente.Que em consequência nomeie o governo mais uma dezena de comissões interministerais e sucessivamente ao nível central , distrital e municiapal composta unicamente por psicólogos e sociólogos para que a pobreza seja combatida com base científica!
PS
Perdão pela minha xenofobia e racismo ao esquecer-me dumas comissões para áfrica e américa do sul onde deve pontificar o representante do "entendimento" das civilizações esse especialista que cobre um largo espectro de chagas sociais.
e a maior árvore de natal da europa, esqueceu-se da maior árvore de natal da europa!! depois do fosso, é o maior orgulho nacional, ali na praça do comércio... engraçado, um e outra são patrocinados pelo banco.
ResponderEliminarA dona Genoveva, não sei se a mesma, mandou-me pelo correio electrónico, uma citação, de um professor judeu que esteve encarcerado nos campos de concentração nazis.
ResponderEliminarE reza assim:
Outro fosso. A verdade e a mentira.
“A todas as crianças judias era ensinado, e isto salvou a vida de algumas; “se entrarem num pátio, no qual existam três saídas, uma guardada por um alemão das SS, outra por um ucraniano e outra por um policia judeu, então deverás tentar passar primeiro pelo alemão, depois talvez pelo ucraniano, mas nunca pelo judeu.”
Carlos