«Contra as elites se pretenderia varrer, em nome do basismo, todo o capital de experiência, de conhecimento, de capacidade de agir, de aptidão para realizar, que foi entretanto acumulado por alguns e que é indispensável ao partido e ao País.» - Proclama hoje, no DN, Vasco Graça Moura, porta-voz das elites do PSD.
Surpreendemos aqui, em flagrante delírio, mais que um programa, todo um filme. Uma fita completa. Ao melhor estilo do neo-realismo italiano - dum Ettore Scola, por exemplo.
Vasco Graça Moura acha que por escrever uma qualquer fantasia numa folha de couve ela se torna realidade. Ou que as pessoas a tomam como tal.
Dá-nos a todos uma amnésia súbita, corolada duma estupidez consumptiva e desatamos, em bloco, a crer piamente que o PSD tem elites. E que essas elites se distinguem das bases. Que, mais fantástico ainda, são "indispensáveis ao partido e ao País". À inteira Civilização Ocidental, quem sabe...
Bem, bastaria atentarmos no estado de ambos, do partido e do País - a país como o partido e o partido como o país - para desatarmos todos a rir a bandeiras despregadas. É mesmo caso para desabafar: Com elites destas, quem é que precisa de bases?
Ora, o que o País sabe, que está cansadíssimo - senão mesmo exausto - de saber é que o "capital entretanto acumulado por alguns" (essa nomenklatura para quem o Vasco faz os fretes de comissário político a troco das mordomias de cãozinho de colo) não foi exactamente o da "experiência, conhecimento, capacidade e aptidão". O País sabe e o partido também, sobretudo porque foi a expensas suas que esses alguns trataram de acumular. E é por saberem que ambos murmuram e, ainda que frouxamente, se agitam. Uma questão inquietante, mas cada vez mais obsessiva, azucrina-lhes as meninges: "porque é que os alguns têm que ser sempre os mesmos? Porque é que os outros não podem também mamar com idêntica fidalguia? Se não há moral, então não devemos comer todos?"...
E têm razão. Pois se é
A mama que faz o fidalgo
acima dos outros fulanos,
democratize-se a chupeta
deixem-nos chupar na têta
que logo fidalgos ficamos.
O que, espantalho e trafulha, como lhe compete, VGM tenta explicar-lhes, às cavalgaduras inquietas, é que o úbere é um mister esotérico que decorre ao mais alto nível. Que exige uma superestrutura adestrada, experiente, acrobática. Que as bases sozinhas não chegam lá. Que só conseguem alcançá-lo com alguém às cavalitas. Ele e alguns como ele. Cúmulos vitalícios. Ou melhor, cus levados em ombros.
Com elites tão básicas não hão-de as bases sentir-se elites!...
Vou soletrar devagarinho para ver se percebem: a classe é o espelho do professor; o exército é a imagem do general; a arte é o reflexo do artesão. Um povo feito choldra é o espelho de quem? Um povo conduzido ao chiqueiro foi atrás de quem? Um povo mergulhado em taras e vícios anda a emular quem?
"Feios, porcos e maus" não é apenas o título do filme: é a descrição exacta das actuais elites deste país. Tão postiças e ciganas quanto qualquer pechisbeque de contrafacção.
Líderes fracos fazem fraca a forte gente. A ideia não é minha, mas é isto que o postal diz.
ResponderEliminarE o pior é que estes Vascos nem são os piores. São apenas os que aproveitaram o úbere que se lhes deparou. Quem lhes há-de atirar pedras se foram os primeiros a chegar?
Que o larguem, para deixar outros mamar?
Quem o faria, aliás? Um santo, talvez. Um herói, também.
Mas de heróis e santos, a nossa história conta poucos.
Quando se diz que ridendo castigat mores, os Mouras percebem muito bem, mas julgam-se com títulos vitalícios ao direito de mama. Pachecos, Mouras, Vitais, etc e tal, são rémoras que nunca largam o Estado que lhes deu tudo.
Não resisti e glosei:
ResponderEliminarRei morto, rei posto. Vasco Graça Moura, sucede a EPC, como rémora do politicamente correcto, na perspectiva situacionista de quem pretende conservar o que tem de seu. Compreende-se e… quem pode levar a mal?
Só mesmo aqueles que têm o mesmo direito de beneficiar das prebendas e privilégios de um Estado que é mesmo de todos.
É por isso que tem lógica completa, este motete sem música, pilhado aqui.
Pois se é
A mama que faz o fidalgo
acima dos outros fulanos,
democratize-se a chupeta
deixem-nos chupar na têta
que logo fidalgos ficamos
O artigo de VGM sobre as elites do PSD, hoje no D.N., não passa de uma pilhéria. Um escrito de silly season. Se as deixasse no limbo, ainda escapavam ao ridículo. Assim, obrigam-nos a lembrar quem tivemos no tempo das vacas gordas do cavaquismo, a orientar o destino da Pátria e olhar para o país que nos deixaram.
Se forem essas, as elites que agora se reclamam, será caso para repensar o conceito de elite. Vasco Graça Moura, até cita dois dicionários para lhe captar o sentido exacto. “ Os melhores e mais notáveis”. Ora bem. Quem são eles, afinal?
Quem definiu as bases para a educação nacional que temos? As elites do PSD. Quem definiu as prioridades de investimento público, nos anos a seguir ao maná da CEE? As elites do PSD. Quem privatizou empresas, entregando o que o Estado socialista pilhara, aos mesmos de sempre e que estavam já velhos de saber olhar apenas para si mesmos?
Foram as elites do PSD.
Quem moldou o Estado a que chegamos, nestes últimos vinte e cinco anos? As elites do PSD.
Claro que nestas elites, se encontram em amálgama natural, as elites do PS. Tão poucas eram que foram cooptadas de modo consensual.
Destas elites, dispensamos todos as respectivas benemerências. Todos, não. Vasco Graça Moura e uns tantos, precisam delas como de pão para a boca. Literalmente.
Gosto do conceito "rémora". Catita.
ResponderEliminar:O)
Pilhei-o algures, já não sei a quem. Ficou na memória recuada e hoje assomou à superfície.
ResponderEliminarDaqui presto a homenagem ao autor original que deve ter já uns bons séculos em cima.
Até o deus gostou!
ResponderEliminarCumprimentos
Excelente análise.
ResponderEliminarComo diz o Castelhano a Constança, no Auto da Índia, "y no ha mas que decir"
PS e PSD, o cheiro é diferente mas a merda é a mesma...
ResponderEliminarCDS\PP -> betinhos filhinhos do papa (genericamente)
PCP -> festa do avante e maiores enganadores da classe operária Portuguesa.
BE -> Criaturas desfasadas da realidade, com a mania que são o progresso...
E já agora aproveito para dizer que quem vota nestes ramelosos, merece viver neste país como está e ainda pior, como vai ficar depois de 2009.
Tenho quase a certeza que o PS vai ganhar em 2009, e que vai continuar a por os ricos mais ricos e os que sobrevivem a sobreviver ainda pior... Mais Portugueses desempregados, e mais meio milhão de imigrantes nacionalizados.
Nenhum destes conta com o meu voto em 2009!!!
ps: cuidado com o sos-racismo por causa da treta dos ciganos.
azagaia
Muto bem D.!
ResponderEliminarO Vasquinho Mouro, como todo o bom "intelectual" quer é manter a maminha.
Caro josé: ...o PSD ... e o PS de igual modo.
Excelente comentário amigo(a)(?) azagaia, não anda nada longe da realidade. Com o meu voto tb não contam de certeza absoluta (e voto sempre)!