domingo, agosto 26, 2007

Salários, salafrários e dignitários




Segundo o Correio da Manhã, nas Forças Armadas portuguesas, um estomatologista ganha quase três vezes mais do que o Chefe de Estado Maior General, ou seja, em números concretos, 5183 euros para o general Chefe; 14 716 euros para o caçador de cáries.
Naturalmente, se bem vos conheço, vosselências aguardais um parecer meu sobre tão suculenta matéria. Importa, pois, que não vos desiluda.
Pois bem, acho que tudo isto está um pouco, quiçá até senão mesmo ligeiramente inflacionado. Trocando por miúdos: se por um lado não acho mal que o estomatologista ganhe mais do que o general-Mor - e, já agora, também que o presidente da república (7.262€, fora as alcavalas) , que o primeiro-Ministro e, em cascata sublime, que todos os outros altos dignitários da Nacinha por aí abaixo (afinal de contas, por pouco que seja, o tratador sempre faz qualquer coisa de útil e meritório na vida) -, por outro, parece-me que 14 716 euros raia o exagero. Digamos que com uns 5000 euros para ambos (guardando a justa vantagem para o dentista) fazíamos a festa e ainda recauchutávamos a moral. Pelo menos, os contribuintes não se sentiriam tão descaradamente - já não direi lesados - mas assaltados em cada ano que passa.
Até porque hoje em dia não faz qualquer sentido continuarmos a chamar Forças Armadas àqueles funcionários públicos que paradeiam e nidificam pelos quartéis. Armadas, só se for mesmo em parvas. Basta recordar como na última guerra em que foram chamados a defender o território nacional, entraram como exército e saíram feitos "Movimento de libertação". Não me perguntem porque é que, em vez de acabarem com os terroristas, desataram a emulá-los. A África, que conheço bem, é dada a estes mistérios e feitiços. O certo é que maçados de defender o ultramar, acharam por bem vir atacar a metrópole. A pretexto de a libertarem, escreveram na Ordem de Serviços. E, de modo a ganhar embalagem, começaram por libertar-se a eles próprios de escrúpulos, honra, sentido do dever, coluna vertebral e todo e qualquer respeito pela bandeira e pela farda que envergavam. Assim, devidamente libertos, puderam debandar com quantas ganas e vísceras tinham, mais as hirsutas coifas recém-descobertas, para nos virem libertar a nós - sobretudo duma série de preocupações e anacronismos cansativos, como a independência e a autodeterminação, só para citar as mais insignificantes (a gravata e o escanhoamento merecem, cada qual, todo um tratado à parte). Desde então, guerra não é com eles. Converteram-se em soldados da paz - uma mistura pacóvia de escoteiros internacionalistas e turistas fardados. Por conseguinte, não vejo qual seja a necessidade, ou sequer a justificação para continuarem a ser tratados -e ainda menos pagos - como se de soldados se tratassem. Soldado da paz, que eu saiba, é bombeiro. Pelo que o justo era integrá-los a todos, e duma vez por todas, no Regimento de Sapadores Bombeiros, que passaria a Brigada, ou Divisão se tanto, e o General Chefe a Comandante de Bombeiros (neste caso não já e apenas municipais, mas internacionais). Depois disso, poderiam continuar a mandá-los na mesma fazer de sipaios de aluguer por esse mundo a fora, não vejo qualquer inconveniente nisso. Cada qual é pró que nasce. Mas, claro está e condição sine qua non, desde que fossem de machado, capacete e auto-escada. Assim é que lhes ficava apropriado. Agora submarinos, blindados e outros gadgets que tais não sei que raio de falta façam a bombeiros ou justifiquem fatias do orçamento. Além disso, nos intervalos das viagens de servidão do globo sempre podiam ser empregues em qualquer coisa de prestável ao país, como o combate a incêndios no verão ou a limpeza de matas no inverno.
Quanto à tropa fandanga, ficamos conversados. E é melhor não me puxarem muito pelo badalo.
No que respeita àqueloutros altos dignitários da Nacinha, dado o nível cada vez mais baixo a que essa altura decorre, convém acrescentar alguns detalhes. Que se sintetizam num postulado essencial: parece-me lógico, sem qualquer tipo de hipérbole ou ironia, que essa gente devia pagar para exercer. O presidente da República e o Primeiro-Ministro, especialmente. Pagar (do seu próprio bolso, evidentemente) o alojamento, os carros, as viagens, a alimentação e ainda, a título de indemnização pelos prejuízos colectivos que sistematicamente caucionam e perpetram, o equivalente ao salário actual em prémio a distribuir mensalmente através de lotaria popular (que mecanismo mais democrático, digo e repito, não existe). Talvez se pagassem, começassem a dar valor e a ter algum respeito pela função, já que pelo povo em geral continuo com as minhas dúvidas. E também era sinal de que possuiam bens prévios ao exercício do poder, pelo que só ali estavam para asnear generosamente e não, como é sórdido costume, para asnear e, ainda por cima, enriquecerem à nossa custa, fazendo-se cobrar faustosamente por isso. Delapidarem o érario público a malta ainda desculpa... ainda é como o outro, descontamos à tradição; agora locupletarem-se e fartazanarem-se nele é que nos enfurece. Esbanjar é próprio dum rei, mas pilhar é típico dum gatuno.
Já os deputados ao Parlamento, bem como a generalidade dos autarcas maiores, não bastaria que pagassem monetariamente. Em complemento obrigatório, o castigo físico e o serviço cívico ao domicílio dos cidadãos (também através de sorteio) seria imprescindível. Absolutamente indispensável.
A Santa Casa havia de bater recordes de receita. Era uma destas corridas aos quiosques!... que até desconfio que deixava de ser preciso cobrar impostos.

5 comentários:

  1. O caro Dragão já constatou por acaso, o trabalho meritório que as nossas forças armadas em tótós, foram fazer para o Afeganistão?
    Pessoalmente, porque sou assim a modos que um pouco para o nacionalista, acho que seria preferível arranjar ali para o Alentejo, uns terrenozitos e plantar lá umas papoilas. Uma das vantagens seria termos os seus derivados para os hospitais quase de borla. Quiçá até se poderiam exportar alguns quilitos, para por as contas do estado em ordem e por outro mandavam-se para lá, já que tanto gostam de as proteger, os nossos militares.
    Para justificar o envio dos nossos militares, pagava-se a um a alentejano, para ser o nosso Ben ladden, é só copiar os americas. Por outro lado, anunciava-se a possibilidade de surgir um talibã, que quererá fazer o mesmo que os seus primos, acabar com as papoilas.
    Assim, pelo menos defendiam o que seria nosso. Já viu, orgulhosamente defendendo as nossas papoilas, em vez das dos outros. Seríamos um país, ainda mais prá frentex.
    Ok, ok, já sei. Defender o que seria nosso...? Deus nos livre, que horror, lá caía o carmo e a trindade e berrariam todas as rameiras deste jardim á beira mar plantado; -O negocio só ocupa o 3º lugar no ranking mundial, ainda se fosse o 2º...
    Carlos

    ResponderEliminar
  2. Que maravilha. Gostei! E muito!
    Obrigado.

    ResponderEliminar
  3. Carlos (o primeiro), não pense que não foi ideia que já não me ocorresse.

    ResponderEliminar
  4. Lol!

    Então o Guterres tinha de pôr a família e amigos a trabalhar para pagar a merda imensa que fez.
    Dificilmente se supera o Guterres (apesar de todos tentarem, e o que o sócretino bem tem tentado, está lá quase!), de facto só mesmo outro comissário para os refugiados é que poderia fazer merda igual.

    ResponderEliminar

Tire senha e aguarde. Os comentários estarão abertos em horário aleatório.