João Goulão, que não conheço de lado nenhum mas aproveito para cumprimentar, dizem-me, é o digníssimo presidente do Instituto da Droga e Toxicodependência. Para além de dar emprego ao João Goulão, mais o rebanho de disfuncionários e amanuenses às suas ordens, também desconheço com todas as minhas forças para que diabo serve uma instituição estatal com tão prosaico nome, mas suspeito seriamente que, ou para rigorosamente nada, ou para coisa nenhuma (excepto aos domingos e dias feriados, em que contribui, de certeza absoluta, para a felicidade de muita gente). Mas isso agora não vem ao caso. O que vem é uma entrevista do sujeito ao Destak. Querem ver o que é uma mente brilhante? Então deslumbrem-se:
Premissa nº1 - «os adolescentes têm hoje uma maior capacidade de fazerem escolhas individuais». Conclusão (dele, naturalmente) - O consumo de drogas tende a estabilizar, se é que não está já mesmo em animado retrocesso.
Que ilação protuberantíssima podemos nós, entretanto, retirar dum tão impecável e fulgurante silogismo? A mais óbvia e elementar:
Não é só a maioria dos jovens que vê o uso do haxixe como "inócuo e inofensivo": o presidente Goulão, a maioria parlamentar e respectivo governo também.Ora, com autoridades destas, vamos continuar a pensar mal dos traficantes?...
Mas há mais.
Vamos ao segundo raciocínio, não menos esfuziante do que o primeiro.
Premissa nº1 - «o consumo de heroína tem sofrido uma clara diminuição, uma vez que é uma droga "desprestigiada" entre a juventude. »
Premissa nº2 - «A cocaína ainda continua a ser associada ao glamour, nomeadamente ao mundo dos artistas e do dinheiro, e, por esse motivo, as pessoas pensam que "não deve fazer muito mal". » (perífrase agravada de eufemismo para dizer que o consumo, certamente para compensar a diminuição da heroína, aumentou).Neste caso, em vez da ilação, é uma perplexidade que nos irriga: então se a heroína está desprestigiada, em recuo esbaforido e a cocaína avança em ombros, qual maré viva, não fazia muito mais sentido, em vez de salas de chuto, criar salas de snifo? E no lugar de troca de seringas, não deveriam antes propiciar a troca dos inaladores? Ou agora nas prisões o Estado só permite heroína? É reserva ecológica? Insere-se no novo PDN - Plano de Droga Nacional, digo Nacinhal?...
Mas o João Goulão, presidente em exercício do Instituto benemérito, como bónus, deixa ainda um alerta. Sobre a cocaína e o seu prestígio entre os jovens que imaginam que "não deve fazer muito mal". Que essa é «uma «visão errada», garante, pois, pelo contrário, a cocaína cria «uma ávida dependência» e pode provocar patologias mentais graves, como «a esquizofrenia e as psicoses».
O que, convenhamos, é verdade. A cocaína tem efeitos reconhecidamente nefastos. Embora não tão nefastos como o Ministério da Educação e respectivos frankenstoinos residentes. Porque aquela, a coca, eventualmente, sob determinadas condições, poderá gerar esses efeitos perversos, enquanto estes, os magarefes do ensino, outros efeitos não engendram senão esses. Andam mesmo há anos, num afã intenso, a criar dependentes, insipientes e mentecaptos ávidos e a provocar, promover e cultivar toda uma cornucópia de patologias mentais graves, como a esquizofrenia, as psicoses, as neuroses, a paralisia conceptual, a esterilidade imaginativa e - súmula teleológica, síndrome consumada de todas essas - a doutorose. Aliás, deve ser por isso mesmo que o país fervilha e rebenta sob uma constelação inesgotável de salas, não de chuto, mas de pasto. E a palha abunda em todas elas. Palha alucinogénea, ainda por cima. É, de facto e de jure, toda uma resma de gerações de porturreses a aprender a "tripar". Não como tantas vezes no passado infame, em que faziam das "tripas coração". Nada disso. Agora, sob o imperativo modernaço, perpétuo-reformador, aprendem a fazer delas cérebro, alma. Quando não o próprio sexo e - por inerência de novideia - nação.
Adorei!
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