Esta moda recente das pessoas irem às urnas nunca dá bom resultado. O dia seguinte é sempre uma desgraça. Tara (ou parafilia) mais contraproducente duvido mesmo que exista. Veja-se mais este episódio em França: lá foram as pessoas às urnas e lá acabou tudo mergulhado na pior das balbúrdias. Era escusado...
Por mais que me tentem vender a excelência da ideia, a lógica avançada da coisa, não acho natural as pessoas irem às urnas. Tenham lá santa paciência, mas não acho. Antes bota de elástico que mentiroso. E não tem a ver só com o facto, internacionalmente reconhecido, de eu me achar impregnado do pleno direito ao título de imperador-deus, cargo a que, mais dia menos dia, ascenderei com a inevitabilidade dos meteoros catastróficos. Não, é mais um escrúpulo de ordem semântica, tanto quanto libidinal. E económica. A propria palavra urna tem qualquer coisa de fúnebre. Qualquer coisa é favor, aquilo lembra é logo enterro e gatos pingados. Aliás, não se conhece melhor processo de enterrar um país. De arruinar uma nação.
-"Estás a ir onde?"-"Eh pá, vou à urna. Hoje é dia de ir à urna!"
-"E consegues?"
-"O quê?..."
- "Ir à urna."
- "Então, que remédio. É o meu dever cívico!"
Tristes tempos estes em que já se confunde necrofilia com dever cívico. Mesmo enquanto exercício de alívio -no melhor dos casos, intestinal -, ir à urna não me convence. E o pior é que nunca se sabe quem lá está dentro. Ora, as emboscadas são garantidas. Enquanto o cidadão eleitor, todo aperaltado e fantasioso, se entretém com a urna, os inquilinos desta, uma caterva de zombies e vampiros candidatos, vão ao cidadão eleitor. Servem-se dele sem qualquer pejo nem moderação. Refocilam para ali num macabro festim. Repugna-me uma tal salganhada. Sórdida ménage a trois que, de todo, me horroriza e enoja. Comboio abominável!
E é por isso que eu nem com uma arma apontada vou às urnas. Nunca! jamais! Em tempo algum! Digam o que disserem, apregoem o que apregoarem. Às urnas, prefiro as putas. Mas isso é limpinho. Se é para acabar depenado, ao menos que retire algum prazer disso. Porque, ao contrário das mães, os filhos arrombam-nos a carteira e ainda ficam com o gozo todo.
Nessa não caio eu.
PS: E o mais estúpido e indecente nem é as pessoas irem às urnas: é depois acreditarem piamente que as engravidaram e têm que casar com elas.
Brilhante!!
ResponderEliminarir à urna? o que é isso? o mais parecido que conheço é mesmo urinar, ou será que é urnar?
ResponderEliminarestas coisas modernas fazem-me confusão.
ir à urna (pop)- forma eufemística de ir à merda, ir ao engano, vazar o mar com balde, salvar a costa da caparica ou sair da cauda da europa. Regra geral os optimistas vão à urna e dos pessimistas só vão os que tambem são masoquistas. É das palavras portuguesas a mais fodida para a rima.
ResponderEliminarA pensar nestes dramas dragónicos, a democracia, sempre na vanguarda das inovações, vai progressivamente implementando o voto electrónico, de modo que o cidadão-chip só tem que clicar na escolha e já está. Ainda por cima é mais fácil manipular os resultados pois não há papelinhos físicos que sirvam de prova.
ResponderEliminarÉ a democracia clean: limpinho!
Sr. Dragão:
ResponderEliminarArdo de ansiedade. O livro que Vexa. prometeu remeter-me não chegou ainda. Tenho feito buscas desesperadas na minha caixa do correio e todas terminam em obsidiante frustração. Para mais, Vexa. motifica-me com o facto de ter já remetido um exemplar a um colega e conterrâneo que, mesquinho, mo veio exibir, em jeito de troféu comprovativo da natureza secundária da minha pessoa. Ora, não podendo já ser o primeiro a recbê-lo nestas longínquas paragens em que trabalho e por vezes blogo, ao menos gostaria de não ser dos últimos. E, já agora, sem querer maçá-lo com pedidos importunos, a mais de com reclamações, solicito-lhe que me brinde igualmente com dedicatória: qualquer coisa serve, seguro como estou de que será desopilante como sempre são os escritos da sua fulgurante pena.
Com os melhores cumprimentos,
Kzar
(http://ocatilinario.blogspot.com)
Caro Kzar,
ResponderEliminarIsso deixa-me capaz de terraplenar o planeta e pulverizar a galáxia!... Como é que um descalabro desses é possível?! Que mundo é este em que vivemos?...
De urgência, sugiro o seguinte: VªExcª envie-me já o contacto para o email. Porque, na verdade, que neste constasse só existia um pedido dessas áreas (que suponho insulares). Ora, esse pedido foi respondido, como, de resto, todos, à hora presente. Ter-se-á dado o caso da encomenda de VªExcª -sagrada e preciosa tanto quanto qualquer outra - não ter alcançado os meus tenebrosos antros?
Nada de desesperos! O livro está garantido e a dedicatória também. Basta que resolvamos esta questão, pelos vistos furtiva, do endereço.
Repito o email onde deve dirigir-se: dragolabaredas@hotmail.com
Dragão
Vou a correr!
ResponderEliminarBrilhante, Caro Dragão. Só que o voto não é «dever cívico» nenhum, mas um direito (de que prescindo, dada a fraude eleitoral das últimas décadas).
ResponderEliminarHá muita gentinha com vontade que confundamos os dois conceitos, para que os direitos constitucionalmente consagrados se transformem todos em «deveres».
O «dever» de pagar imposto (pois é disso que se trata) à (in)Segurança Social é outro. É um serviço a que temos direito, não podemos ser obrigados a «contratá-lo». Mas isso ficaria para outra conversa.
Abraço