quarta-feira, maio 30, 2007

Fábulas - A cigarra e a formiga

Instalada num confortável sofá, defronte da lareira, a formiga gozava dos confortos da sua casa nova e dos mantimentos açambarcados durante a boa estação. Lia balancetes e planeava mapas de recolha prá primavera... Ao mesmo tempo, protegida, refastelada, comprazia-se com a neve que ia caindo lá fora e o vento gelado que atormentava os campos. A certa altura, bateram à porta. A formiga já o esperava e sorriu triunfante, ufana...
"Lá vem ela", pensou. "Por esta altura do ano, é sempre a mesma coisa... Mandriou o verão todo e agora vem pedir batatinhas!... Eu já lhe digo das boas!..." E dirigiu-se para a porta da rua, toda satisfeita consigo própria; pronta para mais um sermão vingativo. Abriu...
Não era a cigarra, era o Dragão. Ia pra dizer qualquer coisa, o visitante, quando, instigado certamente pelo clima inóspito, foi acometido dum espirro. Ainda tentou sustê-lo, mas em vão. Espirrou inapelavelmente. Em cima da formiga e da casa da formiga. Depois, desolado, foi-se embora.
Mais tarde, quando a cigarra chegou, para vir pedir batatinhas, encontrou a porta aberta e aquilo tudo com ar de holocausto. Perplexa, não viu a formiga, mas viu as batatas, amontoadas na despensa. Radiante, não se conteve de bradar:
"Olha que gentileza: batatinhas fritas!..."

15 comentários:

  1. Emende lá esse derivado que não é digno da sua escrita!

    ResponderEliminar
  2. Se é "crítica literária" que almeja, então, realmente indigna é a repetição de "instalada". Agora qe releio, até vou substituir a segunda "instalada"por "refastelada".


    Dragão

    ResponderEliminar
  3. Não se apoquente (e não se apoquentou mesmo...) que o uso indevido das preposições é uma área crítica da Língua Portuguesa. Até Lobo Antunes utiliza o "derivado a...", veja bem!
    À parte este incidente acredite que o visito quase diariamente, com muito gosto.

    ResponderEliminar
  4. Ó dragão, dragão o que se passa consigo hoje? Não é dispensa é despensa, e não me chame crítica literária eu sou é uma grande chata. Deu-me para isto hoje...

    ResponderEliminar
  5. Ah,mas aí está coberta de razão! Essa mereço bem levar com ela nas trombas. Passo a vida a dar tão estulta balda. Já é quase uma mania minha.
    Merecia umas boas reguadas (não mas deram bastantes, foi o que foi!...)
    Lá vou, corrigir tamanha cavalidade. E agradeço-lhe a errata.

    Dragão

    ResponderEliminar
  6. E como a uma senhora nada se recusa...

    ResponderEliminar
  7. Ó Sr. Dragão, veja lá que a propósito de umas gralhitas o destratam aqui mais (ainda que com boa intenção e voz amiga, segundo alcanço) do que as mestras e mestres deste país estão incumbidos de fazer à pequenada que nos próximos exames se mostrar recalcitrante em dominar as manhas da língua.
    Mas não se preocupe. O que conta é o sentido, e nessa matéria, como aliás na da fluidez da pena, estimo-o merecedor de vinte, como habitualmente.

    ResponderEliminar
  8. Caro Kzar, eu - na minha qualidade de dragão - e as gralhas vivemos em perfeita simbiose. Somos inseparáveis. Como as rémoras e os tubarões ou as garças e os crocodilos. :O)

    ResponderEliminar
  9. É para que veja, amigo Dragão, o carinho que lhe dedico, que até quase que lhe exigo a perfeição na escrita. Mas também lhe digo que nunca serei capaz de o igualar na mestria. Já disse eu sou é uma grande chata à chibatada na escrita, totalmente defeituosa por excesso de uso corrector. E ainda a reforma vem longe, derivado ao Sócrates. Mais uma ferroada...

    ResponderEliminar
  10. Anónimo disse...

    Se é "crítica literária" que almeja, então, realmente indigna é a repetição de "instalada". Agora qe releio, até vou substituir a segunda "instalada"por "refastelada".


    Esse texto está com cara de ter sido escrito "nas coxas". :OP

    ResponderEliminar
  11. Dragon.
    It´s pay day dear sir. Pay day... Vá lá... não seja assim, não me mande peidar para outro lado. Não me refiro a flatulências, mas sim a carcanhol, daquelas notas europeias a que Portugal se submeteu. Quero é saber, depois de lidas algumas críticas bastante favoráveis diga-se de passagem, se ainda resta, para sorte minha, o tal livro encadernado com pele de Dragão. Quanto custa tal preciosidade e os procedimentos para adquirir uma.
    Só um pequeníssimo detalhe, mas da maior importância para mim. Se ainda for em pele genuína do Dragão, preferiria que fosse das costas ou do peito. Esquisitice minha não leve a mal. É que, com a sorte que tenho ainda me calha a pele do... a pele do... do... (até já pareço o Guterres na tal peleja mortífera, dos dez porcento), bom... digamos que não vale a pena o caro Dragão ficar carecido.
    A minha respectiva mesura em sinal de agradecimento pelo valiosíssimo conselho. Desmatei-o e o passaredo debandou levando os malditos e inseparáveis bicos, que me estavam a dar cabo do porte elevado, oriundo da Austrália e da Tasmânia.
    A vida por vezes é uma comédia, macabra. Por tão grande injustiça praticada, que o céu não lhe caia em cima caro Dragão. :)
    Novamente, um abraço de longe, não vá ter a sorte da formiga.
    Carlos

    ResponderEliminar
  12. Santinho!!

    Eheheheheh.

    Nada como uma fábula velha, com uma moral dragoniana.

    ResponderEliminar
  13. Caro Carlos,

    Têm vindo a desaparecer, mas ainda resta uma meia dúzia.

    Por conseguinte, se está disposto a ver-se esbulhado da escandalosa quantia de 27,5 euros, só tem que dirigir-se ao email aqui da casa - dragolabaredas@hotmail.com - e indicar-me um endereço para onde lhe enviar a perniciosa obra. O correio trata do resto e o preço já inclui os portes.
    Se habita na área de Lisboa, também se pode arranhar uma forma de levantá-lo directamente no Saldanha. Nesse caso, fica-lhe em 25 euros.

    Vosselência manda.

    ResponderEliminar

Tire senha e aguarde. Os comentários estarão abertos em horário aleatório.