segunda-feira, março 12, 2007

Irreflexão condicionada

Para minha descomunal irritação e gáudio geminado da restante família, existe uma televisão cá em casa. Tal porcaria só transmite com nítidez mínima, de som e imagem, um único canal : a RTP1 . Mas é o suficiente. É mais que suficiente. Ninguém consegue ver aquela merda, seja qual for a hora, seja qual for o dia, seja qual for o programa, mais de cinco minutos seguidos. Isso, porém, é irrelevante. E é irrelevante porque ninguém está propriamente interessado em ver ou ouvir as mixórdias que aquele caixote de lixo eléctrico debita. Na verdade, todos estão interessadíssimos, isso sim, é no lançamento pirotécnico de impropérios e palavrões cabeludos, que invariavelmente acontece sempre que eu, César Augusto Dragão, pai, marido e português convicto, me cruzo com tal aparelho em estado de aceso.
E não é só cá em casa, acreditem, que se divertem mais comigo que com a televisão. Até na tasca, aliás ciber-tasca, é só aquele Toucinho-do-Chão amaneirado, aquele ajudante de talho promovido a entertainer, em suma, aquele Malato seboso aflorar o trombil balofo ao ecrã e logo o Caguinchas, todo sacana, armado em atiçador de borrascas, desata aos brados:
-"Anda ver depressa, ó Dragão!... É o teu amigo, o badocha fifi, o filho do Pacheco Pereira!..."
Fatalmente, expludo. Aquilo é mais forte do que eu. Acciona automaticamente o blitzcrivo. Em conformidade, deflagro num chorrilho torrencial de apocalipses e carroceirices, de cujo teor absolutamente indecoroso e altamente censurável apenas ouso referir que, uma vez denunciada a identidade do putativo pai, engreno sempre, se é que não fico mesmo a patinar às vezes, na pronúncia ribombante da profissão da veteraníssima mãe.
Macadamizado era o mínimo!

8 comentários:

  1. Caguinchas “Homem de Cultura”
    Sempre atento ao que se passa…
    Senhor Dragão quando Ele O chama
    Não é por algo que tem graça?...

    Mas com Caguinchas todo o cuidado é pouco!
    Se bem que o que diz ou faz, nos cai no goto…

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Estimado Dragão, (tentando, em vão, conter o riso),

    Então, V. Exa. pretende macadamizar o “pobre” Malato?
    Onde está a sua tolerância? O Carlinhos Malato, começou a trabalhar aos 16 anos como secretário e passados dois anos foi trabalhar para as vindimas, donde, aliás, nunca deveria ter saído.
    Em meados de 1985, na altura das “rádios piratas”, o “piqueno” (rindo) estreou-se como animador de rádio. Seguiu-se depois a Rádio Renascença, a RFM, a Rádio Comercial e a Antena 3. Até aqui o Malatinho não traumatizou ninguém.
    O problema surge, realmente, quando a RTP resolveu contratá-lo como apresentador de programas, entre os quais, o famigerado “Um Contra Todos”.
    Como comentou João Lopes (e muitíssimo bem), no Diário de Notícias: “Poupemos os equívocos. Não é a decência humana de José Carlos Malato que está em causa, muito menos a limpidez da sua imaginação democrática. Acontece apenas que ele está onde deviam estar os bons filmes e as grandes séries que passam às tantas da manhã ou, metodicamente, se escondem no paraíso cultural na 2. E como nem toda a gente tem os hábitos noctívagos dos programadores da nossa terra, é normal que saibamos mais de José Carlos Malato do que de Carl Dreyer, William Faulkner ou Philip Glass".
    Afinal, as “aparições Malatosas” só vão ao encontro do eterno “comodismo analfabético” e à necessidade de poluição visual e sonora, que muitos “tugas” teimam em cultivar.
    Receba as minhas mui cordiais saudações

    Pandora

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  4. Pô Seu Dragão. Quer dizer que o Senhor não asssiste nem uma novelinha cá do Brasil? :O(

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  5. Passando o riso, o que é estimulante na tv portuguesa é observar a execução prática do princípio de Peter:

    Há poucos dias, atrás, aquando das comemorações dos 50 anos, apareceu uma figura com mais de setenta e que apresentava, aos pouco mais de vinte notícias na rtp. Manuel Caetano era o nome e lembro bem da cara e da voz.
    Nunca passou de apresentador de notícias, de talking head. E ainda bem porque é assim que está bem.

    O que agora vemos, e outra loiça: os talking heads, em pouco tempo viram artistas do show biz, com direitos e regalias do nosso pindérico star system.
    O Malato é um deles.

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  6. Minha caríssima Pandora,

    se é tão bela e elegante ao vivo quanto na minha caixa de comentários, temo bem que ande pelo mundo a causar sérios embaraços ao trânsito. Sinta-se venerada.

    caro José,

    apenas uma nota: por alturas da vitória do "Sim abortadeiro", naquele painel festivo que celebrava a taça, disseram-me cheios de pena de eu não ter visto, adivinhe o caro amigo quem lá estava, entre Bloquistas, galinholas, barbies canhotas e outras amibas urbano-digressivas...? Exactamente, o Malato.
    O caro José, que é pessoa de bons dotes hermenêuticos, saberá com certeza decifrar-me um fenómeno destes. Que se traduz numa simples palavra composta: "semi-ubiquidade".

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  7. ehehehe conheço uma casa onde se passa algo idêntico

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