- É solidário com os 'ocupantes' de um certo teatro do Porto?
- Isso do Porto é o quê? Fica aonde? Julguei que o assunto se esgotava numa marca de Vinhos e num clube de futebol. Há mais alguma coisa de interesse?... Duvido. Os problemas da província nunca me interessaram muito. Aliás, em termos de províncias, sempre preferi as ultramarinas.
- Acha que eles têm razão?
- Eles vivem. Eles blogam. Eles governam. Eles ocupam. Eles discutem. Devo surpreender-me se eles têm razão? Não é difícil ter razão. Hoje em dia toda a gente tem razão. Quanto mais não seja, por definição específica.
- Acha que os contribuintes devem continuar a 'subsidiar' peças de Bertold Brecht?- A capacidade de subsidiar que os otários detêm é assombrosa. Os otários até subsidiam, alarvemente, os bancos. Portanto são capazes de subsidiar qualquer coisa. As peças do Brecht também. Não me chateia muito. Desde que não me obriguem a vê-las.
- E Meyerhold (coitado, teve o fim que teve)?...que tal?- Desconheço completamente esse Meyerhold e rogo-lhe que não quebre o encanto, o repousante sortilégio desta minha ignorância. Levar-lhe-ei a mal se o intentar. Tenciono morrer neste belo estado.
- Acha que se deve continuar a discutir o existencialismo ateu?
- Sem dúvida. O ateu, o teu e o matateu. Todos. Com certeza não concebe que se censure qualquer tipo de discussão, pois não? Cairia o Carmo e a Trindade. Até porque os portugueses alcançaram um estado frenético em que devotam à discussão a mesma monomania desenfreada que os atenienses antigos devotavam aos tribunais. O português cada vez faz menos e cada vez faz pior, mas, em compensação, cada vez discute mais. Discute tudo e mais alguma coisa. Qualquer micropintelho ou reles minhoquice lhe serve, lhe faz deflagrar as meninges e efervescer os azeites. É um povo bipolar: oscila entre décadas de unanimismo e decénios de discórdia. O tuga coevus tem mesmo a capacidade peregrina de discordar consigo próprio: uma coisa que diz hoje, rebate-a sem apelo nem agravo amanhã; uma que sustenta de manhã, fá-la em fanicos à tarde; a verdade que jura ao domingo, renega-a olimpicamente à segunda-feira. O desígnio nacional agora é "sursum discorda!" Deus nos proteja desta gente.
- Acha que a 'História da Humanidade é a História da Luta de Classes'?- Atenho-me à minha própria experiência. Sou forçado a inclinar-me mais para uma “luta de anos” em vez da famigerada “luta de classes”. Recordo-me que era no terceiro ano do liceu (do antigamente) que nós eramos mais oprimidos pelos do 6º e 7º, uns calmeirões do diabo que, entre outras brutalidades unilaterais, nos punham a medir o perímetro da sala de convívio com um pau de fósforo. E se era grande a Sala de convívio do Liceu D.João de Castro! Era desumano. Foram três anos da minha vida em que militei convictamente nas fileiras dos cobardes profissionais. Portanto, nem direi que a “luta de anos” seja a história da Humanidade, mas antes da “desumanidade”. Confunde-se muito a “História da Desumanidade” com a “História da Humanidade”.
- O que acha da obra do sr.Pinter?- Acho que é excelente, na medida em que não conheço nada dela. Enquanto as coisas se mantiveram nessa idílica conjuntura, nada terei a obstar-lhe e desejarei mesmo ao nobelado autor um feliz Natal e um próspero Ano Novo.
- Será que deve haver Ministério da Cultura? (se sim, em que moldes e com que política?)...ou chegaria uma Secretaria de Estado? Ou nem uma coisa nem outra?
- É o que se chama fechar a entrevista com uma pergunta de ouro. Uma não, um cluster delas. Respondendo: Sim, devia haver Ministério da Cultura, se eu fosse o Ministro vitalício e plenipotenciário. Em qualquer outro caso, não. De maneira nenhuma! É absolutamente inútil e desnecessário.
- É o que se chama fechar a entrevista com uma pergunta de ouro. Uma não, um cluster delas. Respondendo: Sim, devia haver Ministério da Cultura, se eu fosse o Ministro vitalício e plenipotenciário. Em qualquer outro caso, não. De maneira nenhuma! É absolutamente inútil e desnecessário.
Bem, mas sendo eu o Ministro, garanto desde já que uma única Secretária de Estado seria, de todo, insuficiente, escassíssima. Teriam que ser necessariamente várias, altas, curvilíneas, seleccionadas segundo os mais elevados padrões estéticos e rodando trimestralmente. Se não há estética no Ministério, como poderá haver estética na Cultura? Aliás, sem estética nem sequer há cultura.
Quanto aos moldes, entendo que os moldes de harém eram os que mais se lhe adequavam: o Ministério como harém do Ministro. Poderá conceber-se coisa mais justa? Penso que não. Quanto à política, seria simples: nada de subsídios aos empréstimos bancários de toda uma horda de gente putativamente delicada e artista, mas que, na maior parte dos casos, nunca devia ter saído do Alentejo, onde os seus reais talentos bem melhor seriam empregues na agro-pecuária ou no contrabando. A função do Ministério, enquanto entidade subsidiante, restringir-se-ia ao subsídio dos devaneios e fantasias do Ministro. O lema deste não enfermaria das habituais labirintices, mas resumir-se-ia numa fórmula límpida, absolutamente transparente e particularmente feliz: "A Cultura sou eu".
Acresce a tudo isto a vantagem inaudita de, um Ministério da Cultura comigo a titular, dispensar e tornar redundante todo o restante governo, Primeiro-ministro incluído. A poupança que não era para os otários deste país!...
EhEhEhEhEh.
ResponderEliminar"Confunde-se muito a “História da Desumanidade” com a “História da Humanidade”."
ResponderEliminarahahahahahhahahah
Isto está uma loucura
":O)))))
o dragão está em vias de ser o meu guru
ResponderEliminarachei que a resposta à pergunta sobre o existencialismo ateu exprimiu um ponto de vista genial
se me permite, caro dragão, assim que tiver tempo também gostava de lhe fazer uma pequena entrevista par poder confirmar a genialidade do mestre
By God,
ResponderEliminarAre you in the Jungle?
But you are Colonel Kurtz!
What happened to you?
I thought that you were in Heaven!
And where is your bodyguard Caguinchas?
What we learn here, in Dragoscópio!
Thanks Dear Dragon.
Caro Timshel, é experimentar. Se achar as perguntas patuscas, pego-lhes. Caso contrário... boa noite e um queijo!
ResponderEliminarO Dragão já tem o seu russo filho de um arcipreste: "You don't talk with that man - you listen to him". É natural: se não estamos na selva, afinal, longe não andamos, neste nosso Portugal.
ResponderEliminar"You don't talk with that man - you listen to him"
ResponderEliminarUma grande verdade.
O que me fica de tudo isto (isto refere-se ao texto maravilhoso) é que mesmo com a negação o Dragão seria um óptimo ministro da cultura, ou, bem vistas as coisas, 1º ministro!
ResponderEliminarCompreendo porque não se identifica! Seria um perigo, ou idolatrado ou na fogueira!
Abraço
É verdade que eu dava um primeiro-Ministro de primeiríssima água. Desde que, claro está,me deixassem manter o anonimato. Sem isso, nada feito. :O)
ResponderEliminarÉ que os mesmos que me idolatravam quando eu tinha o poder, arrastar-me-iam à fogueira mal eu de lá me apeasse.
Lembro-me muitas vezes do Afonso de Albuquerque.
Um palmadão nas costas, ó Carlos!
Very-very interesting!
ResponderEliminarbuy viagra
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Bye