segunda-feira, maio 01, 2006

Analfabrutismo com Todos

Se querem que vos diga, o ensino que eu até mais estimava que funcionasse em Portugal era o primário: ao menos as pessoas aprendiam a ler, a escrever e a contar. Seria muito útil. Ainda mais se pensarmos que actualmente se brota das universidades (e as privadas um pouco pior que as públicas, Católica incluída) sem saber ler nem escrever.
É tal qual como vos digo: a minha filha, por exemplo, tivemos que ensiná-la, eu e a mãe, porque a srª profª tinha outras prioridades (o "meio social", chamam-lhe as luminárias da nova pedagogia). Até se propunha, a avantesma docente, fazer uma viagem de fim de curso pela estranja - que os totós dos pais gentilmente financiariam – na Quarta classe!! Quer dizer, na imaginação megalómana destes mestres-escola altamente perfunctórios, os fedelhos, ao fim de míseros quatro anos de escolaridade mínima, já se alcandoram ao estatuto de "finalistas" - quiçá com queima - em vez de fitas - de fraldas e chuchas. E as visitas de estudo aos cabarés culturais mais inverosímeis? -Infinitas! E as efemérides do calendário mais os treinos para as efemérides? - Um circo! E o festival de encerramento do ano lectivo, com as criancinhas a bancarem as vedetas da canção e os papás que nem focas a baterem palmas às mongoloidices adestradas dos rebentos? - Uma americanorreia de dar vómitos! Os Simpsons ao vivo! Um tipo gasta duas horas a interrogar-se se a escola serve para ensinar alguma coisa de útil aos filhos, ou para estupidificá-los desde a mais tenra idade, bem como justificar uma série de parasitas catrafilados, que nem sanguessugas, nos úberes do erário. Não digo público, porque sei de amigos que vão depositar os filhos em colégios particulares, pagam balúrdios, e o folclore é o mesmo. O que, de resto, só atesta da superior otariedade destes adeptos do "atendimento personalizado": a merda é a mesma, só que os papalvos, por pagarem mais, desenvolvem a muito parola fantasia de ficar mais bem servidos. Chega a ser anedótico: além de pagarem o colégio, ainda pagam depois um exército de explicadores e trituradores de dúvidas a esmo, senão os querubins não frutificam. Limitam-se a patinar na tronchice herdada dos pais.
(Agora vou ser herético e causar grande celeuma à esquerda) Vejam lá bem, que o ensino primário antes do 25 de Abril ensinava as pessoas a ler, a escrever e a contar. Eu, além disso, até aprendi as linhas de caminho de ferro de Angola e outros mistérios de igual gabarito. E reparem que o ensino, nessa época de trevas, também era público. Não me vão agora dizer que os srs. Oliveira Salazar ou Marcelo Caetano eram perigosos comunistas...
Por conseguinte, não é por ser público ou privado que funciona ou deixa de funcionar. Há certamente outras razões.
Mas devo dizer-vos, suponho que para vosso grande espanto, que até nem considero os professores os principais culpados do estado calamitoso a que chegou a educação em Portugal. Elejo, talvez ex aequo, os pais.
É que as p**** das criancinhas não fazem mais senão ir decalcar na escola os paradigmas eloquentes que são as bestas dos pais. Queiram desculpar-me, Vosselências, a rudeza, mas não vislumbro melhor descrição.
Antigamente, ia-se de bata, vejam lá bem. Agora vão de Chevignon, Armani e telemóvel em riste. Com trolley-bags, de pega telescópica e rodinhas, que mais parecem turistas a caminho do check in aeroportuário. Já nem são crianças, mas micro-adultos. Chouriços na rampa de lançamento para futebolista, modelo ou actor de "Morangadas". Em vez de aprenderem a ler e a escrever, aprendem a armar ao pingarelho, a dar opiniões, a macaquear os gurus da TVI. Não tarda muito, estão a abrir blogues na Net e a vociferar contra qualquer mosquito ignóbil que lhes complique a existência (suspeito que já o fazem).
Agora imagine-se quando arribam à faculdade... O horror, a tragédia, pois é.
Mas alguém ainda julga que são os filhos de gente humilde os piores? Desengane-se. É aquela classe de patos-bravos e aprendizes de patos-bravos que infesta o país. Micro-empreiteiros e nano-cabeleireiras. É um país inteiro sem tempo para aprender a ler e a escrever, e muito menos a pensar, porque está muito ocupado a dar opiniões, a palrar no telemóvel e a armar ao pingarelho. Desde girino.
É, resumindo e concluindo, o Analfabrutismo galopante. Elevado à quinta casa e enxofrado à bomba. Pelo vácuo das alminhas abaixo.
Puta que pariu esta gentinha, que já nem filhos faz, nem daqueles que faz quer saber!...

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