segunda-feira, abril 10, 2006

O Holocausto dos Pequeninos

O Lutz coloca a questão no Quase em Português. Eu vou tentar responder em português completo. Ir ou não ir acender velinhas, ou convocar à procissão das velas, eis a questão.
Acho muito bem que os judeus concessionários, os judeolatras espalhafatosos, bem como quaisquer outros devotos avulsos da Santa Indústria do Holocausto –em suma, todos os supremacionistas hebraicos cá da paróquia -, vão, em lacrimejante romaria, acender velinhas para o Rossio. Desde as lendárias eras, em que Arnaldo Matos por ali apascentava os seus rebanhos, que um dos ex libris da capital se vem ressentindo dum défice de fenómenos pitorescos e folclóricas transumâncias. Bem publicitado, isto até vai decerto atrair turistas, o que é óptimo para o comércio, e, caso se venha a transformar num festival, corre mesmo sérios riscos de vir a superar o “Super Rock Super Bock”, o que, louvado seja Jeová, ainda é mais excelente.
Para tornar a peregrinação de todo memorável e o rilhafoles ainda mais angélico, o ideal, senão mesmo o sublime, seria até que, na queixumatosa jornada, os supremacionistas arianos se juntassem aos supremacionistas marranos. Estes últimos, naturalmente, e como manda a tradição, acompanhados dos seus bodes totemísticos, aqueloutros escoltados pelos seus rothweillers emblemáticos. Uma vez congregada diante de D. Pedro IV e respectivo chafariz municipal, a heteróclita chusma, num memorável e redentor Woodstock 2006, adoptava os seguintes procedimentos: os supremacionistas hebraicos acendiam as velas, os supremacionistas arianos sopravam-nas e, todos juntos, cantavam os “parabéns a você”.
Estes, pelo menos, seriam os meus sinceros votos (ao som de “Imagine”, do meu estimado John Lennon).
A realidade, porém, bruxa obcecada em arruinar felicidades, não iria estar certamente pelos ajustes, e cavilaria, como é seu vil timbre e hediondo vício, contra o pastoral idílio. O mais certo era os cães embirrarem com os bodes, os bodes marrarem nos cães, os Marranos acenderem, os Arianos apagarem, e nós, fulanos e sicranos - coitados, que não temos pedigree nenhum-, rirmos a bandeiras despregadas.


Em resumo: não vou lá. Mas mandem-me uma t-shirt pelo correio, à cobrança. E já com o número correcto, definitivo (e estampado a azul, se for possível) desse micro-holocausto. Um holocausto, diga-se, de trazer por casa, requentado, regurgitado e enfiado às colheres pela memória abaixo. Um holocausto, enfim, como este país em que vamos estiolando: dos pequeninos, dos mesquinhos e dos ressentidos.

PS: caro Lutz, por especial consideração, lá dei. Mas dispenso o “linkezito”. Foi desinteressada, a esmola, acredite, como eu geralmente sou.

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