quarta-feira, fevereiro 15, 2006

REQUIEM

Dizem que a morte ceifa, mas o tempo ensinou-me que não. Não ceifa, escava, vai escavando. Um fosso à nossa volta. Os poetas chamam-lhe solidão. Eu, que sou um bruto, chamo-lhe desolação. Desculpem lá isto não estar a sair muito literário, mas ontem ela veio escavar mais um pouco em meu redor. Um pouco, para ela, um quase nada; mas um muito para mim.
Mais que o erro, disso não tenho dúvidas, é a estupidez que é humana. Prova eloquente dessa triste condição é que só quando as perdemos, às pessoas, é que descobrimos o quanto gostamos delas.
Estou de luto. E nos próximos tempos, que me perdoem os meus amigos virtuais, mas não terei cabeça para estas nossas tertúlias. Até porque tenho que ir fortificar e cerrar fileiras com as poucas pessoas reais que me restam.


TRÊS CANÇÕES DE DESPEDIDA

I

Porque é que tudo aqui
tem que ter um Fim?
Já gastei os meus olhos
ainda mal te vi.

Porque é que tudo aqui
tem que ter um Fim?
Já lá vem a morte
ainda mal vivi.

Porque é que tudo aqui
tem que ter um Fim?
Já me fechas os olhos
ainda mal os abri.

II

Agora a montanha perdeu o sol
agora o rio desaguou no mar,
e Deus acendeu outra estrela no céu
lá longe, onde só o coração pode chegar.

Agora o dia perdeu a luz
agora a lágrima abandonou o olhar,
e tu entregas a tua cruz
Àquele que ta ensinou a carregar.

III

Requiem

Nasce-se para morrer
Começa-se para acabar;
Quanto mais a vida te der
mais, no fim, te vai tirar.

Entra-se para sair
corre-se para parar;
Quanto mais alto subir
de mais alto se vai despenhar.

Ganha-se para perder
vive-se para tentar,
Do fundo do meu Ser
está o Abismo a reclamar.

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