Para lá das aparências –quer dizer, dos contornos tenebrosos da alegoria -, o legado de Sade não é muito complicado de entender: O poder e o dinheiro corrompem. Invariavelmente. Os excessos e desregramentos que permitem nem sequer conduzem à felicidade, mas apenas à exasperação (à descoberta que “não há felicidade”). Até porque o corpo é ele próprio masmorra, sujeição: tanto dos outros como de si próprio. O Libertino, turista dos abismos, protagoniza tudo isso.
Estamos, por conseguinte, nos antípodas dos nossos multiliberais peregrinos: para eles o poder e, sobretudo, o dinheiro, não corrompem. Pelo contrário, santificam. Redimem de todas as pretéritas humilhações, decepções e infâmias.
Que a História Universal corrobore Sade à exaustão, para essa boa gente, é despiciendo. São pesadelos que apenas assombram espíritos pouco hábeis, sujeitos rígidos e empastelados. Não eles. Eles, por concessão vitalícia duma fada madrinha leviana, dispõem dum filtro mágico, uma ferramenta prodigiosa que lhes outorga uma clarividência superlativa e, sem a mínima falha, lhes faculta a mais providencial e soberana das noções: a de que a corrupção, afinal, existe em duas formas distintas (à semelhança dos cancros, aliás): Dum lado, uma corrupção benigna, sublime, caridosa –a nossa; do outro, uma corrupção maligna, execrável, destrutiva – a dos outros. A “nossa”, entenda-se, a “deles e dos seus amigos”, eleitos exclusivos e dilectos dos favores das fadas.
A nós, aos deserdados desses seres diáfanos e fabulosos, resta-nos, para amarga compensação, o espanto e, por arrastamento, como Sócrates em tempos reservou aos cônjuges das megeras, a filosofia. O que nos transporta, sem mais atalhos, àquela interrogação óbvia que, ciclicamente, nos flagela: “como distinguir, assim, à vista desarmada, a corrupção boa da corrupção má?” – Por incrível que pareça, até é estupidamente simples: A benigna fala inglês.
Estamos, por conseguinte, nos antípodas dos nossos multiliberais peregrinos: para eles o poder e, sobretudo, o dinheiro, não corrompem. Pelo contrário, santificam. Redimem de todas as pretéritas humilhações, decepções e infâmias.
Que a História Universal corrobore Sade à exaustão, para essa boa gente, é despiciendo. São pesadelos que apenas assombram espíritos pouco hábeis, sujeitos rígidos e empastelados. Não eles. Eles, por concessão vitalícia duma fada madrinha leviana, dispõem dum filtro mágico, uma ferramenta prodigiosa que lhes outorga uma clarividência superlativa e, sem a mínima falha, lhes faculta a mais providencial e soberana das noções: a de que a corrupção, afinal, existe em duas formas distintas (à semelhança dos cancros, aliás): Dum lado, uma corrupção benigna, sublime, caridosa –a nossa; do outro, uma corrupção maligna, execrável, destrutiva – a dos outros. A “nossa”, entenda-se, a “deles e dos seus amigos”, eleitos exclusivos e dilectos dos favores das fadas.
A nós, aos deserdados desses seres diáfanos e fabulosos, resta-nos, para amarga compensação, o espanto e, por arrastamento, como Sócrates em tempos reservou aos cônjuges das megeras, a filosofia. O que nos transporta, sem mais atalhos, àquela interrogação óbvia que, ciclicamente, nos flagela: “como distinguir, assim, à vista desarmada, a corrupção boa da corrupção má?” – Por incrível que pareça, até é estupidamente simples: A benigna fala inglês.
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