Na minha última deambulação pela FNAC, passe a publicidade, deparei-me com uma obra que me chamou a atenção: "Conjuring Hitler - How Britain and America made the Third Reich". O autor é um professor de Political Economy, na Universidade de Washington, e chama-se Guido G. Preparata.
Comprei-o e ando a lê-lo. So far, so good. Ainda vou no princípio, mas a coisa promete. Sobre as teses principais ainda não dá para emitir qualquer opinião. Nem, tão pouco, se recomendo ou não a obra.
Para já, deixo-vos apenas com uma nota de rodapé, ainda no prefácio. Mesmo que o resto se venha a revelar frágil, esta nota já justifica os euros que desembolsei.
(A tradução é minha -tenho amigos que não lêem (e muito bem!) inglês - e foi feita em cima do joelho, pois ando com muito pouco tempo para estas coisas).
«A chamada “democracia” é um logro, o sufrágio universal uma máscara. Nos sistemas modernos burocratizados, cujo nascimento data de meados do século dezanove, a organização feudal foi transposta para um nível seguinte, por assim dizer. O objectivo principal daquilo que Tucídides referiu na sua época como synomosiai (literalmente, “conjura”), isto é, as confrarias ocultas que agem por detrás dos clãs dirigentes, tem sido transformar o processo de cobrança de rendas à população (um “free income” na forma de alugueres, encargos financeiros e extorsões similares), tão imperscrutável e impenetrável quanto possível. A tremenda sofisticação, e a muralha propagandista de mistificações engenhosamente divulgadas, em redor do sistema bancário - instrumento principal através do qual os hierarcas expropriam e controlam a riqueza das suas comunidades hospedeiras -, constitui o testemunho límpido desta transformação essencial suportada pela organização oligárquica/feudal na era moderna. O Ocidente passou duma estrutura agrária de baixa tecnologia, assente nas costas de servos privados de direitos, para uma colmeia pós-industrial altamente mecanizada que se nutre da força de não menos desprivilegiados escravos de colarinho-branco ou azul, cujas vidas são hipotecadas para comprarem de acordo com as modas do consumo. Os mais recentes Lordes da Mansão já não são mais avistados a exigir o tributo, desde que passaram a confiar nos mecanismos da contabilidade bancária para esse fim, enquanto os sicofantas da classe média, tais como académicos e publicitários, permaneceram inteiramente leais ao synomosiai. A outra diferença concreta entre o antigamente e o agora reside no enorme aumento de rendimentos da produção industrial (cujo nível potencial, não obstante, tem sido sempre significativamente mais elevado que a produção real, de modo a manter os preços altos). No que respeita à “participação democrática” dos vulgares cidadãos, estes sabem lá bem no fundo dos seus corações que nunca decidem nada de importante, e que a política consiste na arte de influenciar as multidões nesta ou naquela direcção, consoante os desejos ou antecipações dos poucos que possuem as chaves da informação, do conhecimento efectivo (secreto) e da finança. Este pequeno número pode, em determinada altura, estar mais ou menos dividido em facções antagónicas; quanto mais profunda a divisão, mais sangrenta a disputa social. O registo eleitoral do Ocidente no século passado constitui um monumento cintilante à completa inconsequência da “democracia”: apesar de duas guerras de proporções cataclísmicas e um sistema último de representação que produziu uma pletora de partidos, a Europa Ocidental não conheceu alteração significativa na sua constituição socio-económica, enquanto a América, com o passar do tempo, foi-se tornando cada vez mais idêntica à sua própria oligarquia, reduzindo o aparato democrático a um concurso entre duas alas rivais duma estrutura monopartidária ideologicamente compacta, que é, de facto, “lobbyzada” por “grémios” mais ou menos ocultos: o grau de participação pública nesta flagrante falsificação é, conforme se sabe, compreensivelmente baixo: um terço dos cidadãos, no melhor dos casos.»
- G.G. Preparata, "Conjuring Hitler - How Britain and America made the Third Reich"
"A história da Humanidade é a história da luta de classes"?
ResponderEliminarFica a frase. De meu, tem apenas um ponto. O de interrogação.
Mas qual luta de classes, qual carapuça!... Essa faz-me lembrar o "The great rock'n'Roll swindle".
ResponderEliminarMas tu vês alguma classe em algum tempo? O que tu vês é uma grande falta de classe, por toda a parte e em todas as épocas. É essa a história da Humanidade: a espécie mais desclassificada de todas, cheia de arrufos, peneiras e manias que há-de ser a maior. O Pato-bravo do Cosmos. O "Eleito".
Aliás, aquilo que nós chamamos progresso resume-se ao triunfo do mais desclassificado sobre o anterior. É uma corrida aos ralos. Basta atentarmos na classe cuja supremacia o nosso tempo celebra, em apoteose: a burguesia (a burguesia, claro está, com a mania que é aristocrata). Um tipo até percebe porque é que os chimpanzés nunca tiveram qualquer interesse em imitar-nos.
O livro promete.
ResponderEliminar" O que tu vês é uma grande falta de classe, por toda a parte e em todas as épocas. É essa a história da Humanidade..."
ResponderEliminarAinda bem que o Dragão reconhece.
Não se esqueça disto que escreveu.
nice. obrigada pela tradução sr. dragão
ResponderEliminaro sr nelo beiço está a confundir classe com cerimónias. o sr. dragão tem muita classe nos seus disparos. uma classe hardcore, mas classe.
Agradecimentos pela cortesia (a tradução)
ResponderEliminarass: renegado.