Então, depois da História, essa figura de estilo, ter obrigado Portugal a abandonar as suas responsabilidades históricas em África, agora vem este músico irlandês clamar pelo contrário?... Mas porque é que este bestunto não vai ter destes desabafos empolgantes com o José Eduardo dos Santos e todos os “Mobutus” que exercem, com soberania supimpa, a “autodeterminação dos povos africanos”?
Esse assunto é com eles, pázinho! Vai lá explicar-lhes essas teorias caritativas e humanitárias, àqueles gorduchos de merda cuja fortuna é geminadamente proporcional à miséria e fominha dos respectivos povos. Vai lá sensibilizá-las, Sir Bob, àquelas nomenklaturas e tribos comilonas – compenetra-os que bastavam aí uns 10% daquilo que gamam, aforram e armazenam por essa banca-esponja do mundo inteiro, para que os desgraçados lá da terra deles, que são muitos, quase todos, pudessem viver com o mínimo de dignidade. Era lá que devias perorar, ó lordezinho, não duvides! Era lá que devias largar essas homilias de plástico a tresandar a peixe e a engodo para palonços adoradores de écran. Sim, nesse penico do mundo é que devias ir absterger a conscienciazinha pop à cata de protagonismo mediático; aí, meu caro, é que convinha e fazia todo o sentido que ginasticasses esse teu vedetismo serôdio, de turista benemérito em digressão pimpona de período pós-ganza. A bela peregrinação que não seria! E o pitoresco que era!...
Em vez dum mero chulo da desgraça alheia, quem sabe, talvez até te fizesses um homenzinho, talvez descobrisses mesmo o que era compaixão genuína, e que pior, bem pior, mil vezes pior que toda a miséria material que assombra as Áfricas, é a indigência espiritual soterrada em gordura néscia e tóxica que te assola a ti e ao cabrão de Mundo Ocidental, a cair de velho, de podre, de impotente, que, para prova da cloaca onde chafurda, te pariu e aos Bonos todos da paróquia (leia-se: toda a bosta chilreante dos Tops).
Mas tu gostas é de salões, de palcos ovacionantes, de púlpitos climatizados, não é? Tu babas-te é de palrar aos engravatados da civilização e aos consumidores lobotomizados da Grande Loja. Pregador sim, mas com ar-condicionado e room service. De que te servia ires gastar saliva com os pretitos e os pretões: eles não te compram os discos, estão a leste do Paraíso e do Mercado. Uns irrelevantes! Ainda te martirizavam, olha a grande chatice. Mais depressa que estes papalvos da banda de cá, topavam-te, à légua, ó santo de pau carunchoso, com a dentuça farisaica a espreitar detrás da retórica bacoca. Ninguém gosta de servir de mero pretexto. E ainda menos de cobaia no laboratório de tecno-escroques da História.
Vens então pregar moral porque os roubámos, escravizámos, explorámos ou defenestrámos no passado. Achas tu, ó iluminado; e apontas para gravuras elucidativas. Mas esqueces de todo aqueles que os roubam, escravizam, vampirizam e matam à fome agora. Todos os dias. Sem dó nem piedade, bem pior que o mais ignóbil e desarvorado dos colonos. Sobre este, todo este belo presente, passas o quê, uma esponja? Um atestado de inimputabilidade? Uma certidão geral de vítimas?
Então agora não são independentes? Não são livres? Não são responsáveis? Não são seres humanos de pleno direito? Não são países soberanos, com assento até na ONU e embaixadas opíparas distribuídas por esse mundo fora?
Temos que ajudá-los especialmente a eles porquê? Porque são pretos? Não podemos ajudar antes os esquimós, ou os peles-vermelhas norte americanos, ou os índios da Amazónia, ou os aborígenes da Austrália, ou aqueles maltrapilhos do Bangla-Desh? Também andámos a foder esses gajos todos, que diabo!... Aliás, parte deles continuam a ser fodidos à bruta e nem direito a assento na ONU têm. Não só os colonizaram como os exterminaram o mais possível. E os Tibetanos, não te agradam? Não engraças com eles? Ou aqueles tipos da Sibéria que se suicidam em série, porque as empresas petrolíferas lhes deram cabo do habitat – não são suficientemente desgraçadinhos? E aquelas criancinhas agarradas aos teares e linhas de montagem, desde bebézinhos, não te assustam? Não te incomodas que atirem para o desemprego aqui milhares dos meus patrícios, coitados, hipotecados à banca e deslocalizados à canzana? Ah, estão a ganhar dinheirinho, os petizes, para dentro em breve poderem andar de jeans, comer hamburgueres e comprar CDs pop, hip-hop e tecno-chic... Olha, que interessante! Que bem pensado.
A ressaca deu-te para aí. Não te chegavam os sem-abrigo lá da tua rua, os desempregados e famintos lá da paróquia. Tinhas que dar uma de Neo-grande explorador, agora não já da geografia, mas da miséria, da galga. África é pois o destino preferencial do jet-set vouyeur da penúria. Eis-te - em nova versão superproduzida, sobremonitorizada-, Tele-Livingtone pela África afora, desinsofrido, patético, à procura das nascentes do Nulo. O Nulo que, pelos vistos, é invariavelmente o estuário seco desse grande rio de ajuda humanitária aos supostos necessitados. O Nulo, que é igualmente, o fontanário mental donde jorra tão filantrópica torrente. Em suma, o Nulo, o Zero, o nano-rato que essa montanha de show-off geral e fatalmente pare. Tirando, claro está, uns certos e nada insignificantes lucros colaterais e outros derivados oportunos ao longo do processo. Não há milagres: O circo tem as suas despesas. O folclore, à escala global, tem custos.
E no meio desse forrobodó nem o Portugalzito, já quase reduzido à mendicidade europeia, escapa. É também mobilizado, pelo Sir Lord Ganzas, para ir, em penitência, combater a miséria nas Áfricas. Tira o cavalinho da chuva, ó Coiso!... Em primeiro lugar, porque, após debandada unilateral, já entregámos aquilo ao repasto das potências; em segundo, e mais importante ainda, porque Portugal já nem a sua própria miséria consegue derrotar, conter ou sequer aliviar. Nós somos bons é a importar coisas. De desgraças, então, somos campeões. E em auto-aviltamentos uns ases. Com tais pergaminhos é mais que óbvio que nem essa desgraça africana nos escapa. Chamamos-lhe um figo. Depois de processada e coada pela nossa indigência mental instituída, já começou até a dar os seus frutos: já retomámos a exportação de famintos worldwide.
Mas tu gostas é de salões, de palcos ovacionantes, de púlpitos climatizados, não é? Tu babas-te é de palrar aos engravatados da civilização e aos consumidores lobotomizados da Grande Loja. Pregador sim, mas com ar-condicionado e room service. De que te servia ires gastar saliva com os pretitos e os pretões: eles não te compram os discos, estão a leste do Paraíso e do Mercado. Uns irrelevantes! Ainda te martirizavam, olha a grande chatice. Mais depressa que estes papalvos da banda de cá, topavam-te, à légua, ó santo de pau carunchoso, com a dentuça farisaica a espreitar detrás da retórica bacoca. Ninguém gosta de servir de mero pretexto. E ainda menos de cobaia no laboratório de tecno-escroques da História.
Vens então pregar moral porque os roubámos, escravizámos, explorámos ou defenestrámos no passado. Achas tu, ó iluminado; e apontas para gravuras elucidativas. Mas esqueces de todo aqueles que os roubam, escravizam, vampirizam e matam à fome agora. Todos os dias. Sem dó nem piedade, bem pior que o mais ignóbil e desarvorado dos colonos. Sobre este, todo este belo presente, passas o quê, uma esponja? Um atestado de inimputabilidade? Uma certidão geral de vítimas?
Então agora não são independentes? Não são livres? Não são responsáveis? Não são seres humanos de pleno direito? Não são países soberanos, com assento até na ONU e embaixadas opíparas distribuídas por esse mundo fora?
Temos que ajudá-los especialmente a eles porquê? Porque são pretos? Não podemos ajudar antes os esquimós, ou os peles-vermelhas norte americanos, ou os índios da Amazónia, ou os aborígenes da Austrália, ou aqueles maltrapilhos do Bangla-Desh? Também andámos a foder esses gajos todos, que diabo!... Aliás, parte deles continuam a ser fodidos à bruta e nem direito a assento na ONU têm. Não só os colonizaram como os exterminaram o mais possível. E os Tibetanos, não te agradam? Não engraças com eles? Ou aqueles tipos da Sibéria que se suicidam em série, porque as empresas petrolíferas lhes deram cabo do habitat – não são suficientemente desgraçadinhos? E aquelas criancinhas agarradas aos teares e linhas de montagem, desde bebézinhos, não te assustam? Não te incomodas que atirem para o desemprego aqui milhares dos meus patrícios, coitados, hipotecados à banca e deslocalizados à canzana? Ah, estão a ganhar dinheirinho, os petizes, para dentro em breve poderem andar de jeans, comer hamburgueres e comprar CDs pop, hip-hop e tecno-chic... Olha, que interessante! Que bem pensado.
A ressaca deu-te para aí. Não te chegavam os sem-abrigo lá da tua rua, os desempregados e famintos lá da paróquia. Tinhas que dar uma de Neo-grande explorador, agora não já da geografia, mas da miséria, da galga. África é pois o destino preferencial do jet-set vouyeur da penúria. Eis-te - em nova versão superproduzida, sobremonitorizada-, Tele-Livingtone pela África afora, desinsofrido, patético, à procura das nascentes do Nulo. O Nulo que, pelos vistos, é invariavelmente o estuário seco desse grande rio de ajuda humanitária aos supostos necessitados. O Nulo, que é igualmente, o fontanário mental donde jorra tão filantrópica torrente. Em suma, o Nulo, o Zero, o nano-rato que essa montanha de show-off geral e fatalmente pare. Tirando, claro está, uns certos e nada insignificantes lucros colaterais e outros derivados oportunos ao longo do processo. Não há milagres: O circo tem as suas despesas. O folclore, à escala global, tem custos.
E no meio desse forrobodó nem o Portugalzito, já quase reduzido à mendicidade europeia, escapa. É também mobilizado, pelo Sir Lord Ganzas, para ir, em penitência, combater a miséria nas Áfricas. Tira o cavalinho da chuva, ó Coiso!... Em primeiro lugar, porque, após debandada unilateral, já entregámos aquilo ao repasto das potências; em segundo, e mais importante ainda, porque Portugal já nem a sua própria miséria consegue derrotar, conter ou sequer aliviar. Nós somos bons é a importar coisas. De desgraças, então, somos campeões. E em auto-aviltamentos uns ases. Com tais pergaminhos é mais que óbvio que nem essa desgraça africana nos escapa. Chamamos-lhe um figo. Depois de processada e coada pela nossa indigência mental instituída, já começou até a dar os seus frutos: já retomámos a exportação de famintos worldwide.
Resumindo: Isto já é África, ó Lord Ginjas. Vê lá mas é se nos toca algum!...
Tens toda a razão Dragão. Cambada de cabrões filhos da puta.
ResponderEliminarVou copiar o texto e distribuir.
Legionário
Grande Dragão! este é para guardar!
ResponderEliminarBasta existirem gajos como tu para ainda não estar tudo perdido!
ResponderEliminarUm abraço.
Esmagador!
ResponderEliminarEspírito
Parabéns por mais estes dois excelentes Postais.
ResponderEliminarUma sequência preciosa de uma clareza impressionante.
Um abraço
Bob, estamos a precisar de um LIVE TUGAS para nos ajudar no plano tecnológico do governo. Sem isso vamos ter problemas electrónicos graves...
ResponderEliminarGREAT!!!
ResponderEliminar:)
Excelente!
ResponderEliminarNC
Brilhante,como(quase!!!)sempre. - Se Portugal tivesse uma duzia de gajos como tu,(nos tempos certos) no minimo, nao teria perdido a dignidade historica.
ResponderEliminarBom , verdadeiro e espirituoso.
ResponderEliminarDo MELHOR!...
ResponderEliminarO Dragão é prova que Portugal "produz" os melhores intelectos do mundo, mas também que não os aproveita minimamente...
PARADOXOS!!!!
Brilhante!
ResponderEliminarSubscrevo, na íntegra.
"...porque Portugal já nem a sua própria miséria consegue derrotar, conter ou sequer aliviar..."
Vem-se agravando a 'coisa' desde a morte do saudoso D.Dinis.
Depois da 'morte histórica de Portugal', ocorrida em Alcacer-Kibir, nem se fala.
'Lord Ganzas'
ahahahahah
eu tb não gosto do Bob! Gosto mais de dance music e tchno! Tás mt tenso e escreves mt! Já foste a Ibiza? é giruuuuuuu!
ResponderEliminarbjs
quem caralho é esta gaja?!
ResponderEliminarBom post.
ResponderEliminarnelson: há coisas que não se perguntam, mordem-se sem comentários ";O)
ResponderEliminarSe este post tivesse sido escrito p'lo Sócrates... já não pedia nada ao Pai Natal!
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