É o último grito: o "Crédito Sénior". Ou melhor, o último grunhido, a chiadela peregrina e derradeira desses cabrões usurários que fazem vida de parasitar e vampirizar incautos, toinos e pacóvios.
-"É um nicho que estava por explorar", proclama uma das grandessíssimas bestas, com ares empertigados, de quem acaba de descobrir a pólvora. Agora nem os velhinhos escapam. Já nem os cabelos brancos respeitam. Toca de sugar até os caquéticos e as velhas carcaças. Tipos com Parkinson ou Alzheimaer? Venham eles! Desgraçados à beira da cova, estropiados ou paralíticos, em coma, ligados à máquina, pouco importa: basta que os filhos, netos ou sobrinhos fiquem de penhor, ofereçam as jugulares, sirvam de reféns.
Este conceito maravilhoso de nicho pimpão é um mimo. Uma beleza! Por artes de tão fulgurante lógica, expediente e ciganice, doravante, a chulagem banqueira até pode emprestar dinheiro a mortos e defuntos, a monglóides e alienígenas, a duendes e fantasmas, que ninguém se espanta. Basta que um fiador, um cristo voluntário se apresente ao suplício, entregue os costados ao martírio. Basta que um qualquer masoquista inveterado se ofereça em holocausto, se cubra de mel e exponha ao formigueiro, à marabunta.
A seguir, não se admirem, vão-se atirar aos sidosos –vai ser o "Crédito Sida". E depois aos tetraplégicos, aos que sofrem dos pézinhos, aos que sucumbem a diarreias crónicas inexoráveis – vai ser o "Crédito Merdinha"!
Finalmente, depois de vos crivarem todos de dívidas, de vos penhorarem desde o primeiro cabelo do cocuruto até ao derradeiro pintelho do cu, hão-de querer emprestar dinheiro ao vosso cão, ao vosso gato, ao piriquito e à galinha! Ao espantalho da vossa horta! Aos gambosinos todos da paróquia! Aos arincus da noite escura!
Hão-de emprestar até aos vermes que vos hão-de comer e às moscas que, na hora da despedida, as almas vêm escoltar. E tudo isso só porque na hora em que nasceram ninguém teve a caridade de fornecer um penico, uma algália, um caixote do lixo –enfim, um adequado nicho – à grandessíssima puta que os pariu!...
Tenho dito.
Gaita, é a isso que se chama insinerar!
ResponderEliminarA chulice toma foros de caridade.
ResponderEliminarÉ a consagração última de Portugal ao sagrado cofre dos bancos.
Faço minhas a tuas palavras, ó Dragão! Puta que os pariu!
A República entrega à voragem da usura
o que resta dos seus cidadãos.
No meio de pedras e mato seco apodrecem as carcaças da memória de um país.
Que absoluta palermice.
ResponderEliminarExcelente post! Completamente de acordo.
ResponderEliminarNC
ao caríssimo Dragão e "Aos arincus da noite escura!"
ResponderEliminarna minha terra diz-se "arancuns". dizia-se!...que agora é tudo muito evoluído e até os arancuns evoluíram para pirilampos.
bem-haja por esta recordação e deixe-me acrescentar que não me surpreendeu com este seu regresso em cheio! só esquece a quem nunca soube. haja é saúde!