Filosoficamente falando, poderíamos dividir a História Humana -da Pré-História até à presente data- em duas épocas aparentemente distintas: a tirania dos instintos e a tirania da razão (sendo que esta constitui apenas um verniz, uma cobertura chantilizada daqueles). Ambas obstruem e têm como função e preocupação principais impedir uma coisa: o reinado da inteligência.
De quem julgue que a civilização racional é um avanço extraordinário em relação à selva, desengane-se. Não passa dum sublimado desta, duma selva complicada e aberrante. Nela abundam, à exuberância, o exultar dos predadores, a angústia dos predados e o pairar dos necrófagos.
Entretanto, do que é possível avaliar, dadas as fracas ferramentas que possuímos, o acesso à inteligência é, infelizmente, restrito – a indivíduos. Desde a Caverna de Platão que o suspeitamos.
Também, ao contrário do que hoje se propagandeia, em fumigenação ao domicílio, a inteligência não é um derivado da razão, mas sim da ética imanente ao próprio cosmos. Assim, comparativamente, o homem, tal qual o mundo o tem apresentado, não parece ser o mais inteligente, mas sim o mais estúpido dos animais. Ao contrário dos outros, enquanto espécie, não alcança um nível de aprendizagem básico: no essencial, não aprende com a experiência. Nem melhora com o decorrer do tempo. Actualmente, dá-se ao requinte psicótico, alucinado, de se barricar contra as gerações passadas e plantar minas, venenos e armadilhas como legado às vindouras.
Se a liberdade existisse, eu teria preferido nascer golfinho.
Vou pôr-me na pele de Dragão por um dia, do tamanho deste comentário.
ResponderEliminarQual será a actividade humana mais inebriante, catalisadora e libertária?
Para mim, na pele de Dragão, é a guerra!
A guerra dos antigos e modernos bárbaros- não estas últimas, de algum modo asseptizadas e cirúrgicas ( et pour cause), com regras de procedimento e respeito pela carta de Genebra.
Dantes é que era! Num exército do tipo dos de Alexandre o grande( vi o filme e não gostei muito) as batalhas eram de vida ou de morte, literalmente. O saque tinha os limites das existências. A satisfação dos desejos primários, atiçados pela inebriante libertação de dopaminas, seria certamente indescritível, sem barreiras de espécie alguma que não fossem as do desejo.
Para quem quisesse fugir à monotonia, não haveria melhor ocupação do que guerreiro de falange nos exércitos vencedores.
Ponhamo-nos por uma vez no lugar de um deles.
Chegamos a uma cidade murada, defendida por milhares de estranhos que só nos serão semelhantes no aspecto físico. Esperamos e cercamos. A espera aguça o engenho e o desejo. Entramos e vencemos a resistência. Pela força bruta que infunde terror e respeito, dominamos todos os sitiados e tomamos conta daquilo que não nos pertencia. A velocidade e o ritmo alucinante do desbaste e a explosão de todos os sentidos, fará o pleno da adrenalina.
Quem gosta de matar outrém, pode fazê-lo e satisfazer esse desejo sem consequências. Quem quiser violar mulheres à escolha dos desejos, está à vontade e pode fazê-lo uma, duas, três ou quantas vezes puder e quiser. Pode desfrutar das delícias guardadas; pode saciar desejos de fome; pode roubar e guardar o saque.
OS animais farão tal coisa?! Não precisam nem o instinto lhes puxa a tanto. Mas o homem guerreiro faz e no fim é um grande guerreiro com direito a estátuas comemorativas dos feitos e escribas que lhes relatam os feitos.
Segundo dizem, as guerras em África, actualmente, condimentam-se com estes mesmos ingredientes. Pouco ou nada mudou do tempo dos bárbaros.
No Vietnam temos alguns relatos desvairados que permitem aproximações, mas contidas em segredo nos limites do tolerável pela democracia. Em Angola, Moçambique e Guiné, nos anos sessenta e inícios dos setenta, idem.
A Guerra é que é! Talvez por isso, por estas inebriantes experiências, em resposta a Unamuno, o falangista José Millan Astray tenha gritado: Viva la Muerte!
Pronto. Acabo aqui que estou a sentir náuseas mentais.
Sem querer estar a contradizer-te, ó José, mas, aí, a certa altura do teu delírio, não andarás a confundir dragões com salamandras?
ResponderEliminarPosto eu um postal todo filosófico e sais-me tu com um arrazoado desses!...Mas que raio de mosca te mordeu?!
Ainda por cima a citares um cabrão dum espanhol!...Foda-se, espanhóis aqui, no meu blogue, é que não!...
Além disso, falar da guerra é como falar de mulheres: Requer experiência. Aí não bastam os livros.
Para te ser franco, até prefiro a paz. Mas não a paz podre, a predação intraespecífica e legalizada dos fracos e indefesos. Nesse caso, que por acaso até é o actual (ou ainda não reparáste?), prefiro uma boa guerra. Fico que nem peixe na água. É a puta da testosterona, o que é que queres?!...:O))
Agora a sério: Não prercebi nada. :O(
"Ao contrário dos outros, enquanto espécie, não alcança um nível de aprendizagem básico: no essencial, não aprende com a experiência"
ResponderEliminarpois é, sô Dragão, e o que vejo nisso não mais do que a dita originalidade. Os humanos não aprendem porque se julgam sempre únicos. E a fazer tudo como se fosse a primeira vez. Para o bem e para o mal é essa a sua sina: falta de instinto de continuidade. Se assim não fosse também não havia ciência com todas as magníficas descobertas. E assim sendo também há história. E ninguém aprende nem lhe liga...
Quanto à guerra prefiro esse básico grito de acção quando se atira à arte ":O)))
Fora dela, há muito que a tragédia desapareceu. O que ficou é demasiada argamassa de mistura de negócio com entranhas que o nosso Celine tão bem retratou naquela "Viagem"...
A única guerra que ainda pode ser digna é solitária ";O)
Essa última frase foi sábia, ó Zazie!... O nosso maior inimigo habita dentro de nós, eh-eh!...É lixado, o sacana.
ResponderEliminarMas agora, por paródia, vê lá se adivinhas quem escreveu isto:
"Não é a boa causa que santifica qualquer guerra; é a boa guerra que santifica qualquer causa!"
- ???
«Temos de entrar em nós próprios armados até aos dentes.»
- ????
ora bem, o sacana do Nietzsche sabia do que falava ";O))
ResponderEliminarCerto. A primeira.
ResponderEliminarE a segunda?
Ok. Abandonemos as figuras de estilo e imagens distorcidas.
ResponderEliminarO que procurei dizer através de alter ego, foi que a guerra é essencialmente crueldade. É um lugar comum, aliás.
Não tenho experiência de guerra vivida pessoalmente. Nunca tive ocasião de tentar esconder-me no capim a seguir ao rebentamento de minas, como alguns me contaram; nem sequer experimentei os assentos do Unimog.
Mas sobre o cheiro da morte, sei algumas coisas concretas e que me permitem extrapolar.
O que pretendi referir com o delírio imaginativo foi a demência das guerras de antanho em que os conquistadores dizimavam, extirpavam e se refastelavam ( pá, eu tentei não alindar a escrita...) na crueldade mais extrema, sem limites éticos ou morais ou regulamentares de qualquer tipo.
Hoje em dia, a crueldade não desapareceu porque é inerente à naturesa humana, desde sempre. Nas recentes guerras civis de África entre Hutus e Tutsis, a crueldade parece ter atingido os extremos do paroxismo.
Assim, limitei-me a extrapolar dos desejos naturais dos homens de todos os tempos e aplicar a receita em teatros de guerra de todas as épocas, com destaque para os da antiguidade em que não existia ainda a convenção de Genebra.
Na guerra da Bósnia, os limites de crueldade voltaram a ser ultrapassados, segundo alguns relatos e por isso basta imaginar a barbárie à solta para perceber o que se terá passado.
O tema do post dizia " Da humana estupidez", reflectindo a vantagem de alguns animais irracionais relativamente ao Homem.
Parece-me que não fugi do tema, ó Dragão!
Mas para melhor esclarecimento, aqui fica um sítio sobre a evolução da crueldade na guerra:
http://www.dailymirror.lk/2003/05/08/opinion/1.html
Pá, foi por isso que disse que já estava a ter náuseas mentais. Nunca fujo a ver um cadáver sempre que o dever me obriga. Mas isso estraga-me o dia. Enjoa-me;muda-me o humor e afecta-me a disposição geral.
Não fui à guerra, mas conheço a morte de perto. E a guerra é morte. Essencialmente.
Um pergunta muito simples,caro José (já que levaste o assunto para o enfoque na guerra): A "competição" mercantil, não achas que é um eufemismo para guerra?
ResponderEliminarEntre matar um gajo a tiro, à bomba, à catanada, ou matá-lo por envenenamento, fazê-lo vegetar por uma vida inteira, dar cabo dele à fome, intoxicá-lo, reduzi-lo ao nível de macaco, besta lovecraftiana de trabalho, etc,etc, qual será pior?
E já que falamos em "piores", qual ganhará a palma de ouro: matar um homem, ou matar-lhe os sonhos?...
Ou dito ainda de outra maneira - Qual será maior crime: matar indivíduos, ou matar a própria espécie? Matar homens ou matar a própria humanidade?
EU já te devo ter dito isto algures lá atrás: Encontrei mais humanidade em "teatros de operações", que em teatros de hipocrisias (como é esta nossa sociadadezinha em putrefacção acelarada). Portanto, não sejas tão maniqueísta e não tenhas tanto a certeza de coisas que parecem muito óbvias, mas, se calhar, não são. A noite é inseparável do dia, a treva da luz. E mesmo o "Horror"...(escolhe tu o par que lhe respeita).
PS: Não que as tuas ilacções e deduções sejam destituídas de sensatez e lógica. Pelo contrário. Mas há toda uma viagem para lá disso.
Claro que há uma viagem para lá dessa realidade!
ResponderEliminarE no comentário anterior tinha dito que a guerra- ou melhor, uma batalha à antiga, provavelmente será o acontecimento e fenómeno com maior poder de injecção de adrenalina que se possa conceber. Numa batalha de corpo a corpo, o Homem defronta-se consigo próprio e se não estiver anestesiado, a embriaguez do confronto deve ser bestial, no sentido de tremendo.
Acredito no que dizes quanto à humanidade no teatro de guerra. Parece-me até natural que a humanidade surja em situações limite, como surgirão sentimentos fortes que jamais desaparecerão.
Nem é preciso experimentar a adrenalida da expectativa da emboscada mortal. Basta fazer uma caminhada de algumas dezenas de quilómetros, em direcção a um qualquer destino. Ao fim de algumas horas, o cansaço, a caminhada em si e o esforço dispendido, geram modificações nos sentidos. Não é por acaso que muitas das pessoas que vão a pé a Fátima, percorrendo algumas delas centenas de quilómetros, repetem a jornada. Não é só pela fé. Tem a ver com outro género de apelos, mais físicos e mentais.
Porém, não querendo tergiversar, retomo a meada a fio:
A guerra serviu-me de exemplo de situação limite em que o HOmem se transforma. Mas há outras: por exemplo, aqui há umas décadas no Chile, caiu um avião, nas montanhas geladas e ao fim de alguns dias os sobreviventes não tinham comida- e precisavam de comer. Suponho que sabes o que fizeram.
A humanidade no teatro de guerra aparece em função da solidariedade de facto: estão todos literalmente no mesmo buraco ou no mesmo barco e a cooperação é essencial para a sobrevivência. E se não for?! Se for preciso escolher quem fica para trás?!
Enfim, são relfexões caóticas sobre coisas em que raramente penso.
Agora, se me comparas a morte física em teatro de guerra e com crueldade, com a morte lenta da degradação espiritual, associando-a à estupidez da cupidez e do consumo a qualquer preço, parece-me que passas além da Taprobana e começas a percorrer terra de ninguém.
ResponderEliminarElabora mais um pouco sobre isso que não se me afigura uma paralelismo evidente.
Os sonhos, já lá dizia o outro poeta, não se cortam facilmente. Olha por exemplo o caso do Mandela, para mim um dos mais extraordinários seres humanos que julgo conhecer. Tiraram-lhe quase tudo. E no fim de dezenas de anos, esqueceu quem lhos tirou e devolveu a esperança a quem a não tinha, incluindo os algozes.
Não me parece que esteja a ser poético, pois o retrato parece-me mais para o realismo puro.
estou de acordo com o José. Também não consigo fazer essa comparação da aniquilação da espécie por via de sitemas mercantilistas e considerar que é pior que a crueza da guerra. Nada é pior que o extermínio dos seus, nada pode ser pior que a catástrofe. Tal como a coragem, também todos os males ganham a verdadeira dimensão quando toca ao corpo. A verdadeira coragem é física. O verdadeiro terror idem. Tudo o resto pode ter mil e um subterfúgios. A tudo o resto se pode dar a volta ou fugir. Eu entendo que se fale em desumanização por corte de expectativas, mas estou como o José: cabe ao ser humano inventá-las. E não falo apenas do sonho, mas da capacidade de zarpar, de mudar de pele de tentar a sorte, de jogar com o destino. A minha grande admiração vai precisamente para todos esses que usam o "engenho e arte" para não perderem a alma.
ResponderEliminarPor outro lado, gosto de olhar para a natureza e ver como tudo o que frutifica faz cair semente em campo que lhe está próximo.
mas é claro que eu sou uma grande hedonista... ";O)))
ResponderEliminare até me estava a lembrar de um outro post... ia jurar que foste tu que o escreveste... em que contavas a história do Napoleão... mesmo a perder a guerra, mesmo a ter de zarpar dali para fora, ainda se lembrou de dar a queca com mademoiselle não sei de quantos... ":O)))
ResponderEliminaresse é que o bom do nosso instinto, e a guerra que se espere ou que siga e a honra de pátria que se dane que o melhor que de cá se leva não faz a história mas sabe muito bem ":O)))
Vocês nunca repararam porque é que os leões têm garras e presas muito mais poderosas que as leoas?...
ResponderEliminarEssencialmente, não é para caçar. Isso fazem elas, bem como provir ao sustento da família.
Regra geral, entre os mamíferos é assim.
É claro que se descermos ao nível dos insectos, a coisa muda substancialmente de figuras.
Isto só para recolocar o assunto ao nível dos animais e da Natureza.
Quanto ao "exterminar os nossos", menina Zazie, a guerra nunca trata dos nossos, trata sempre de dar cabo dos "outros".
O ser humano é muito susceptível e belicoso. Se não o deixarem ir prá tropa, inventa uma claque, uma seita, uma discussão. Aquilo lá por dentro trabalha-o. Até as mulheres, desde que há cem anos se vêm masculinizando, também já participam no festim. Algumas até já têm mais garra que eles, mais testosterona, eh-eh. :O))
Dragão: eu expliquei-me mal. O que estava a dizer é que não podia haver pior mal (no sentido económico, como tu insinuavas) do que o mal causado por uam guerra. E quando falei nos nossos referia-me aos nossos familiares que podem ser mortos numa guerra. É pá, que é que querias? que dissesse que tinha medo de morrer? fogo... não sou amazona mas, por mim, só temo que o céu me caia em cima da tola ":O)))
ResponderEliminarquanto ao ser humano ser belicoso não vejo mal nisso. Como te disse até gosto muito quando se atira à arte ":O)))
ResponderEliminarjá as mulheres que têm vindo a masculinizar-se... hummmm... não sei, têm vindo é a ganhar gostos diferentes como o do poder. Mas ia jurar que os homens, por efeito do convívio e da novela, é que andam em acelerada efiminização ":O)))
e quem diz os homens diz as instituições, a política, a justiça, a polícia, tudo por aí fora... anda tudo cheio de "intuições" e "palpitações", e "sensibilidades" e "diálogos" e blá, blá, blá... e enrolam-nos e enrolam-se pelo verbo.
ResponderEliminarE claro que, em paralelo, há sempre os que ficam livre deste campo de "conversações e punhos de renda" e esses aí, quando os largam à solta parece que lhe vem barbárie ao cimo à conta dos que ficam em casa
Ora, a "masculinização" é consequência da "efeminação". Se uns abdicam, as outras aproveitam, ou não será?... :O))
ResponderEliminarQuanto à guerra, segue postal dentro de momentos. Refastelem-se. E continuamos lá a conversa, que aqui já vai longa. Aproveito para inserir novos dados e socorrer-me de tropas frescas, que vocês são dois contra um, eh-eh!...
pois... se calhar... alguém tem de preencher o lugar, né? ":O))
ResponderEliminarups! não era isso que queria dizer... e não dou com a porcaria do caixote do lixo ":O.
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