«Pelo menos desde o Êxodo do Egipto (os Judeus) estavam convencidos que a vontade de Jeová tinha o seu centro em Israel e que só a Israel cabia a realização dessa vontade. Pelo menos desde o tempo dos profetas estavam convencidos que Jeová não era um simples deus nacional, embora poderoso, mas sim o Deus único e o Senhor omnipotente da história que controlava os destinos de todas as nações. Na verdade, eram muito variadas as conclusões que os Judeus tiravam de tais crenças. Muitos, como o “Segundo Isaías”, sentiam que a eleição divina lhes impunha uma especial responsabilidade moral, uma obrigação de mostrarem-se justos e misericordiosos nas suas relações com todos os homens. Segundo eles, a missão divina de Israel era a de iluminar os Gentios e a de assim levar a salvação até aos confins da terra. A par desta interpretação ética existia, porém, uma outra que se foi tornando mais atraente à medida que o fervor do velho nacionalismo começou a estar sujeito ao choque e à tensão de repetidas derrotas, deportações e diásporas. Precisamente por estarem tão profundamente convencidos de serem o Povo Eleito, os Judeus tinham a tendência para reagir ao perigo, à opressão e às dificuldades com quimeras ou imagens de triunfo total e de properidade sem limites que Jeová, na sua omnipotência, haveria de conceder aos seus Eleitos na plenitude dos tempos. (...)
Deverá, na verdade, chegar um Dia de Jeová, um Dia da Ira, em que o sol e a lua e as estrelas se obscurecerão e os céus e a terra serão abalados. Deverá, na verdade, haver um Julgamento em que os infiéis –aqueles que em Israel não confiaram no Senhor e também os inimigos de Israel, as nações pagãs – serão condenados e humilhados, senão inteiramente destruídos. Mas não será o fim: um “resto salvador” de Israel sobreviverá a estes castigos e através desse resto se hão-de realizar os objectivos divinos. Quando o Povo estiver assim regenerado e reformado, Jeová cessará a sua vingança e tornar-se-á o Libertador. Os justos vivos – juntamente, acrescentar-se-á mais tarde, com os justos mortos agora ressuscitados – serão, uma vez mais, reunidos na Palestina e Jeová habitará com eles como Senhor e Juíz, reinando a partir de uma Jerusalém reconstruída, de Sião que se terá tornado a capital espiritual do mundo e à qual afluirão todas as nações.»
- Norman Cohn, “Na Senda do Milénio”
Este é daqueles textos que dispensa comentários. Peço apenas que atentem com especial ênfase nos seguintes conceitos: “povo eleito”, “triunfo total”, “Dia da Ira” e “resto salvador”. Realço ainda que o “elitismo” judaico, cujo momento inaugural surpreendemos na descrição em epígrafe, não é só virado contra os “gentios”, como também, e com igual intensidade, contra os “maus judeus”. Dito por outras palavras: não há os judeus e os outros, mas sim os “Puros Eleitos” (os crentes fervorosos numa Jerusalém restaurada e apoteótica), e os outros, judeus e gentios.
Convém ainda relembrar que o holocausto do Terceiro Reich, objectivamente, não prejudicou a Elite Sionista. Antes, pelo contrário, a corroborava e lhe deu o impulso definitivo de que ela precisava. Dir-se-ia que Jeová, segundo os Sionistas, escreveu direito por linhas deveras tortuosas. Num século em que a lógica predominante consistiu nos “fins justificam os meios”, quem sabe se isso não obedeceu mesmo aos chamados “interesses de estado”? (Mesmo que aparentemente esse “estado” não existisse...)
Facto indesmentível: Sem a II Guerra Mundial e o Holocausto nazi não existiria hoje o Estado de Israel, tal qual existe.
Mais um caso para os detectives da conspiração.
Deverá, na verdade, chegar um Dia de Jeová, um Dia da Ira, em que o sol e a lua e as estrelas se obscurecerão e os céus e a terra serão abalados. Deverá, na verdade, haver um Julgamento em que os infiéis –aqueles que em Israel não confiaram no Senhor e também os inimigos de Israel, as nações pagãs – serão condenados e humilhados, senão inteiramente destruídos. Mas não será o fim: um “resto salvador” de Israel sobreviverá a estes castigos e através desse resto se hão-de realizar os objectivos divinos. Quando o Povo estiver assim regenerado e reformado, Jeová cessará a sua vingança e tornar-se-á o Libertador. Os justos vivos – juntamente, acrescentar-se-á mais tarde, com os justos mortos agora ressuscitados – serão, uma vez mais, reunidos na Palestina e Jeová habitará com eles como Senhor e Juíz, reinando a partir de uma Jerusalém reconstruída, de Sião que se terá tornado a capital espiritual do mundo e à qual afluirão todas as nações.»
- Norman Cohn, “Na Senda do Milénio”
Este é daqueles textos que dispensa comentários. Peço apenas que atentem com especial ênfase nos seguintes conceitos: “povo eleito”, “triunfo total”, “Dia da Ira” e “resto salvador”. Realço ainda que o “elitismo” judaico, cujo momento inaugural surpreendemos na descrição em epígrafe, não é só virado contra os “gentios”, como também, e com igual intensidade, contra os “maus judeus”. Dito por outras palavras: não há os judeus e os outros, mas sim os “Puros Eleitos” (os crentes fervorosos numa Jerusalém restaurada e apoteótica), e os outros, judeus e gentios.
Convém ainda relembrar que o holocausto do Terceiro Reich, objectivamente, não prejudicou a Elite Sionista. Antes, pelo contrário, a corroborava e lhe deu o impulso definitivo de que ela precisava. Dir-se-ia que Jeová, segundo os Sionistas, escreveu direito por linhas deveras tortuosas. Num século em que a lógica predominante consistiu nos “fins justificam os meios”, quem sabe se isso não obedeceu mesmo aos chamados “interesses de estado”? (Mesmo que aparentemente esse “estado” não existisse...)
Facto indesmentível: Sem a II Guerra Mundial e o Holocausto nazi não existiria hoje o Estado de Israel, tal qual existe.
Mais um caso para os detectives da conspiração.
aqui está um tema que nem religiosa nem politicamente vejo assim de modo tão simples. Nem tenho a total certeza se essa noção de povo eleito deva ser lida assim...
ResponderEliminarTu por acaso leste o que o Varela Gomes escreveu sobre o assunto? foi pouco, apenas aflorou umas ideias, lá no Cristóvão de Moura, mas achei-as bem curiosas...
Ele colocou esta ideia em equiparação de parte a parte: como uma vontade de história (do Islão e dos judeus)
mas uma outra história de resistência ao extermínio com milhares de anos que é impossível que não tenha gerado qualquer coisa de muito forte. É estranho que a Ciência agora diga que já nem existem características de raça... que mesmo isso é apenas cultural. Não sei grande coisa sobre o assunto. um dia destes chateio os moços do Conta Natura a ver o que dizem.
ResponderEliminarSabes que eu não gosto de complicar o que é simples, ó Zazie. :O))
ResponderEliminarO Varela Gomes não sei quem é. parece nome de Prec. Quanto a qualquer coisa chamada Cristovão de Moura, só esse nome, é boa razão para não se meter lá os pés. Corrige-me se estou enganado: não foi um daqueles "nobres" que, depois de Alcácer, vendeu aqui o rincão aos Felipes?...
Em suma, ó Zazie, eu leio poucos blogues. Um dia destes digo quais.
PS: Contudo, vou continuar brevemente a expôr algumas ideias simples sobre este mesmo assunto. Agora que a "ponta do iceberg" vai de vento em popa, convém falar da grande massa submersa.
Então vamos lá a ser claros que se tu não gostas de complicar o que é simples eu ainda menos. O que não significa que aceite qualquer assunto quando tenho dúvidas.
ResponderEliminar1- esquece o Paulo Varela Gomes que é historiador e o blogue também já morreu. O iberismo para o caso também não importava. Apenas foi dos poucos lugares onde vi afloradas ideias fora do habitual acerca do conflito israelo-pelstiniano. Como foi tudo tão superficial apenas perguntei se estavas a par que contigo dava para falar do assunto. (se quiseres espreita aqui: http://cristovao-de-moura.blogspot.com/2003_08_01_cristovao-de-moura_archive.html#106166419169277806)
2- Quanto à ideia de Povo Escolhido apenas não conheço bem essa ideia e, aqui há tempo, no Crónicas Matinais até foi colocado um link de entendido sobre o assunto onde se modificava esse sentido. Escolhido como responsabilidade perante Deus e não como imposição sobre os homens. Não sei se é assim ou se é como tu dizes e eu sempre entendi.
3- Dizes: “o holocausto do Terceiro Reich, objectivamente, não prejudicou a Elite Sionista.” E concluis que sem ele não existiria o Estado de Israel. Pois será assim, mas convenhamos que é um tipo de “sorte” que nem um povo eleito em toda a soberba do seu orgulho teria pedido (o grande problema é o Estado estar onde está e não poder estar noutro local. É um contra-senso mas é essa base do problema milenar.
4- A metáfora final: “Quando o Povo estiver assim regenerado e reformado, Jeová cessará a sua vingança e tornar-se-á o Libertador. Os justos vivos – juntamente, acrescentar-se-á mais tarde, com os justos mortos agora ressuscitados – serão, uma vez mais, reunidos na Palestina e Jeová habitará com eles como Senhor e Juíz, reinando a partir de uma Jerusalém reconstruída, de Sião que se terá tornado a capital espiritual do mundo e à qual afluirão todas as nações.»” Pois, se te virares para a lenda e para o motor religioso assim parece. Mas aí lembrei-te e volto a lembrar-te que és capaz de encontrar profecia idêntica do lado cruzadístico islâmico e por isso é que te disse que a história não é de um povo Eleito contra outros não eleitos mas de dois povos eleitos (cada um à sua maneira).
5- Por último sou capaz de falar dos judeus em termos históricos, em termos de tradições e costumes e até desse sentido de hegemonia que se reflecte no modo como obrigam familiarmente a conversão dos que com eles se misturam.
Mas, quanto s linhas políticas acerca da manutenção do Estado de Israel (incluindo pelos judeus americanos) não tenho informação suficiente para me pronunciar.
Pois pões questões com toda a propriedade. Como o texto do Cohn descreve (nota que o Cohn é um dos grandes especialistas do assunto), não existe isso de "Os judeus" como se todos os judeus fossem a mesma coisa, um pacote uniforme de que se gosta, detesta, ou se é indiferente. O mesmo pode dizer-se dos muçulmanos e dos cristãos, como deves reconhecer. Ora, os Judeus têm sido todos metidos no mesmo saco. E muitas vezes esse saco não é ingénuo e, muito menos, benevolente. E é, quanto a mim, por se tomar assim tudo de atacado que se prejudica uma visão mais clara sobre o assunto e se favorece todos aqueles que, dentro dos judeus e fora deles, pretendem tirar partido da nebulosidade. Filojudeus e antijudeus (eles apelidam-se, uns aos outros e entre si, de filosemitas e antisemitas, mas isso já vimos que é incorrecto, porque os árabes também são semitas), são, em certo sentido, faces da mesma moeda.
ResponderEliminarA questão dos "Eleitos" é terrível, mas, se começou por ser uma invenção hebraica, deixou de ser, ao longo dos tempos, património exclusivo seu. Ao começar por falar dos Judeus estou só a colocar essa questão no seu momento inaugural. Havemos de vê-la depois noutros avatares, que não te devem ser difíceis de adivinhar.
Isto serviu como introdução a uma série de postais sobre aquilo que eu intitularei a "Morte de Deus". Muito brevemente postarei algo sobre o "Monoteísmo" que, penso, responderá, a meu modo, bárbaro como sempre, a alguns desses problemas que apontáste.
E sem jamais abdicar da simplicidade!... :O))
Pois então cá aguardo que isso promete. E sem abdicares da tua simplicidade “:O)))
ResponderEliminarQue uma amiga minha que veio cá chamou-lhe outra coisa...
“olha que esse tal Dragão tem uma escrita muito viril” “:O)))))
A tua amiga pronunciou-se com grande sabedoria. Envia-lhe as minhas homenagens! :O))
ResponderEliminarInteressante assunto: num momento histórico em que uma élite plutocrática se permite espalhar pelo mundo o caos em nome da luta 'antiterrorista', refugiando-se no estatuto de «vítima» - exactamente como os judeus o fazem desde a «matança dos inocentes» até aos nossos dias - dá a impressão que, bem vistas as coisas, é esta a chave da sua impunidade: quanto mais me apresento como vítima, mais gente posso matar e saquear...
ResponderEliminarSei que arrasto para o desgraçado terreno lamacento da realidade o teu Apocalipse, mas já nem consigo ver as imagens da tv que mostram os «coitadinhos» dos judeus e as dos malévolos terroristas palestinianos. Talvez excesso de consumo, ou talvez o enjoo amargo das imagens de um Arafat envenenado... Agora, as tais «vítimas», no aconchego dos seus segredos, devem rebolar-se a rir: aviámos os dois prémios Nobel que se atreveram a sonhar com dois estados independentes. Há-de ser tudo nosso!
Ana