Não faz muito tempo que um amigo meu me perguntava: “Ouve lá, ó Dragão, que me dizes tu da “teoria da conspiração tal”. Referia-se, claro está, a uma bela teoria, um daqueles planos maquiavélicos para instalar uma tirania subliminar e manipular o pagode desavergonhadamente. Enfim, o costume das teorias da conspiração. Há para todos os gostos e feitios.
Os meus amigos, criaturas raras, são pessoas inteligentes. Mas, pior ainda que isso, são almas benévolas, que medem os outros por si. É natural, pois, que acabem induzidos em erro. Como acontece nisto das teorias da conspiração.
Foi o que tentei explicar a esse meu amigo. E que aproveito para repetir aqui a quaisquer outros (e certamente raros) interessados.
É como vos digo: Se a generalidade das pessoas e das sociedades primasse pela inteligência, pela atenção, pela sensibilidade às questões fundamentais do que quer que fosse, faria todo o sentido que existissem, a cada esquina, em catacumbas e subterrâneos, grémios de facínoras conluiados, urdindo complexos planos maquievélicos para se apoderarem das mentes e vontades do zé povinho, para subornarem a consciência das elites culturais e para silenciarem todo e qualquer esboço antagónico. Seria garantido. Só que a generalidade das pessoas é estúpida que nem um porta e tão perspicaz quanto um autocarro; as sociedades são ainda piores que as pessoas e só fazem é piorá-las; as elites culturais ou quaisquer outras andam geralmente em saldo e a oferecer-se na beira da estrada a preços de promoção; e os esboços de antagonismo são de um tipo mediamente lobotomizado se mijar a rir. Pelo que, lógica e concretamente, não é preciso plano maquiavélico nenhum, nem complexa e sinistra conspiração alguma: qualquer labrego básico de meia tigela, com meia dúzia de neurónios mal aparafusados, chega ao poder e atropela o que muito bem lhe dá na real gana! De caminho, instaura uma saloiada infame, vende as piores banhas da cobra de que há memória, a última sempre pior que a anterior, e faz as reais necessidades, sólidas e líquidas, sobre todos e quaisquer pruridos racionais (ou quaisquer outros) que lhe contendam com a veneta. Promontório ilustre da perpétua brutidão, emanação caótica e justíssima do povoléu que galopa, conhece – por isso mesmo e de ginjeira –, um pormenor singelo mas crucial: Não é preciso conspiração nenhuma para controlar algo que não existe – o pensamento livre das pessoas.
Pois é, meu caro Dragão. Acordei com uma ideia idêntica: epistemologizar um logro. Neste caso, de um livro que nem li e que se chama O código Da Vinci.
ResponderEliminarDe caminho, recordo as Farpas.
VOu triturar palavras.
Eheheh, é bem verdade... e no entanto existem... montes de teorias e grémios rivais. Cá para mim servem para inventar status entre eles “;O))
ResponderEliminarGeronimo
ResponderEliminarou é por não haver pensamento livre distribuído generosamente pela cabeça das pessoas que a urdidura é mais fácil de tecer?