quinta-feira, junho 03, 2004

E AGORA UMA PAUSA PARA IREM VOTAR...



«Ao serviço da Compagnie Pordurière du Petit Togo trabalhavam ao mesmo tempo que eu, já o disse, em telheiros e nas plantações, grande número de negros e indivíduos brancos do meu género. Mas enquanto os indígenas só se mexiam à força de cacete e mantinham essa dignidade, os brancos, aperfeiçoados já pela instrução pública, desembaraçavam-se sozinhos.
O cacete acaba por fatigar quem o maneja, ao passo que a esperança de se tornarem poderosos e ricos, de que estão a abarrotar os brancos, não custa nada, absolutamente nada. E venham-nos agora gabar o Egipto ou os tiranos tártaros! Não eram esses antigos mais do que amadores e despotazinhos pretenciosos na arte suprema de fazer produzir ao animal vertical o melhor do seu esforço no trabalho. Esses primitivos não sabiam tratar os escravos por "senhor", fazê-los votar uma vez por outra, pagar-lhes salário e sobretudo mandá-los à guerra para fazer as suas paixões arrefecer. Um cristão do século vinte (sabia eu já alguma coisa do assunto) não é pessoa para se conter quando à frente dele passa um regimento, de tal modo a coisa lhe solta as ideias.»
- Céline, "Viagem ao Fim da Noite"

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