Tem um certo interesse recordar aqui algumas daquelas que eram as "profissões párias" da Idade Média. Em pleno século XII, sob a forte influência duma Igreja pouco inclinada a "modernismos", no index profissional (ofícios desonrosos), figuravam, entre outros:
* Prostitutas
* Magarefes
* Jograis
* Cozinheiros
* Soldados
* Taberneiros
* Advogados
* Juízes
* Notários
* Médicos
* Cirurgiões
* Mercadores
* Banqueiros
Não deixa de ser curioso o destino que a História reservará a estes ministérios: a Idade Moderna procederá à sua reabilitação; a Idade Contemporânea velará o seu triunfo. Nos dias de hoje, sem sombra de dúvida, equivalem, em grande medida, aos ofícios mais bem pagos do planeta. Este desenlace, aos nossos olhos, simboliza o triunfo dessa classe -de prostitutas, cozinheiros, magarefes, advogados, médicos, taberneiros, mercadores e banqueiros-, denominada, no seu conjunto, por burguesia. Em contrapartida, aos olhos severos e pouco elásticos do espírito medieval significaria a glorificação da desonra, a aclamação do ilícito, o império da vileza.
Por muito que nos proteja o santíssimo sacramento da aversão cultivada e promovida a esse tempo de "trevas", quanto mais mergulhamos nos "luzes" resplandecentes destes novos tempos e assistimos às tropelias histriónicas destas novas gentes, mais se instala em nós um profundo mal estar, mais nos assaltam doses crescentes de angústia e sentimentos paradoxais de incerteza. Um dos mais constrangentes é esta suspeita, vaga mas atazanante, de que, se calhar, os medievais não eram tão estúpidos como os pintam.
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