quarta-feira, maio 26, 2004

OPTIMISMO GALOPANTE



Ando a gastar o meu latim para nada. Já várias vezes, neste blogue, demonstrei, por A+B e B+C, que os portugueses são o povo mais optimista do mundo, e este Delgado nunca mais aprende. Sabia que era burro, mas não tanto.
Lembrou-se agora, vejam lá bem, de lançar o labéu de "pessimista" (esse sintoma claro da esquizofrenia ou -agudizada esta- do terrorismo) sobre todos aqueles que não acreditem piamente na excelência deste governo e da sua sábia governação, capazes, os dois prodígios juntos, das maiores proezas e milagres de que há memória. Sim, registem bem: nem é preciso a descrença, basta a dúvida, a vacilação, a suspeita.
Para não variar e dar prova cabal da sua asnosofia perseverante, o Delgado, intestino - quer dizer, íntimo confrade da gafe e da aleivosia, porfia na confusão semântica que o distingue e lhe tem valido não escassos cargos e promoções. Confunde "pessimismo" com o antónimo de "imbecilidade" ou "debilidade mental"... Compete-me despertá-lo: Digníssimo escriba, convença-se (e se duvida, consulte os compêndios): O contrário de "pessimista" é "optimista"; como, na mesma linha, o contrário de "descrença" é "fé".
Eu, por exemplo, sou um optimista incorrigível. Não dou um tostão furado pelo governo, nem por si, caro Delgado. Mas não deixo que isso afecte o meu optimismo. Pelo contrário, sinto-o tonificado, fortificado em cada dia que passa. Sei que todas as noites, garantem-mo os astrónomos e eu lobrigo da janela, caem centenas de meteoritos sobre a Terra. Por isso acredito, tenho fé - uma inoxidável esperança-, que algum deles, de bom peso e tamanho, numa dessas incursões metódicas, lhe acerte bem em cheio na cabeça.
Se isto não é optimismo...

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