quinta-feira, maio 27, 2004

ANTES QUEBRAR QUE TORCER


Dignou-se, um mui gentil comentador deste blogue, deixar aí abaixo uma alusão ao "integralismo lusitano".
Isto, mais que não fosse, levou a que eu me confrontasse com uma questão que muito raramente coloco a mim próprio:
Eu, Dragão, serei republicano ou monárquico?...

Politicamente, sou português. Lamento muito desiludir os direitistas serôdios e de meia tigela que por aí pastam e que já me tinham degradado a "comunista" (ou coisa que o valesse), mas é assim, tenham paciência, gosto muito deste país, é o meu, com todos os seus defeitos e desgraças, sem petróleo nem diamantes, sem armas de destruição maciça fora a televisão, capaz da cobardia e do heroísmo, pobrezinho mas (gostaria eu, acima de tudo) honrado. Do presente deste país não gosto. Não sou masoquista. Mas também não o renego. Assumo a minha quota-parte na tragédia. Além do mais, o presente deste país não o resume, ao país, nem atesta, nem esgota. Portugal não é só esta meia dúzia de parasitas, nem este rebanho de sonâmbulos que lhe turvam a consciência e tolhem o futuro. Portugal é, apesar disso. Portugal não são só os vivos meio-mortos: são também os mortos que estão mais vivos que estes mortos-vivos, e o chão, o mar, o céu, os montes, as árvores, os sonhos, e todos os que hão-de vir, se não os deixarmos morrer antes. Portugal não começou a 27 de Março de 2002, nem a 25 de Abril de 74, nem a 5 de Outubro de 1910. Não nasceu nem renasceu nessas datas. Renasce ou morre todos os dias. Não no calendário, mas na nossa alma, no nosso sangue e vontade de viver ou morrer. Um homem mata-se quando se vende. Porque um homem não é um escravo, nem uma puta. Quando um homem morre, morre um pedaço do país com ele.
Portugal foi fundado em 1140, num tempo em que os homens, ao contrário de hoje, triunfavam pelo valor da sua coragem, mais que pela manha da sua perfídia. E se resistiu, vai para nove séculos, independente ao lado da gente mais alarve e bárbara da Europa que são os castelhanos, algum mérito e valor deve ter.
Nesses oito séculos e meio foi, a maior parte do tempo, mais de sete séculos, uma monarquia. Há menos de 100 anos é uma república. Ocorrem-me alguns reis e príncipes extraordinários. Não me ocorre nenhum presidente da república que se diga benza-te Deus, e políticos republicanos, muito poucos. Isto quer dizer que a República é pior que a Monarquia? Também houve reis que foram uma catástrofe - um D.Fernando I, um João III, sobre todos!; uma nobreza que a maior parte do tempo, e em tempo de crise, se vendeu aos espanhóis (tal qual hoje ensaiam as pseudo-elites); um clero que, depois da Inquisição, muito contribuiu para mergulhar o país em sectarismo e beatismo filisteu (como hoje se esmera a Opus Day).
Em que ficamos? Republicano ou Monárquico? Olhem, não é questão que me tire o sono. Mas sempre vou dizendo aos monárquicos: Se me garantirem que têm aí um D.João II, um Príncipe Perfeito desses, então contem com o meu braço.
Na minha qualidade de Dragão - de mostrengo, portanto-, compreendo bem a angústia desse marinheiro que...
«Três vezes do leme as mãos ergueu,
Três vezes ao leme as reprendeu,
e disse no fim de tremer três vezes:
"Aqui ao leme sou mais que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade , que me ata ao leme,
De EL-Rei D.João Segundo!"

Mais que em sistemas, ou regimes, é neste Povo que eu acredito.
Antes quebrar que torcer.

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