Finalmente, ficamos a saber qual o método governativo do actual Primeiro Ministro. Dissolvam-se os rumores, cada vez mais insistentes e fundamentados, que apontavam para a inexistência do mesmo. Graças ao inefável Luís (Intestino) Delgado, vidente superlativo, foi-nos revelado o mistério. Diz ele, no tom sibilino que o caracteriza ( e Deus lhe pague por mais esta pérola):
«Durão Barroso tem uma característica especial: acha que o tempo resolve tudo, ou quase tudo, sem que seja necessário uma intervenção sua (...)»
O Tempo, meus amigos, esse prodígio miraculoso. Bem que nós suspeitávamos de que isto ia tudo ao sabor da meteorologia!...
Agora reparem na eficácia ímpar deste método:
a) Nos Incêndios estivais.
Rompem as labaredas, devorando matas, casarios e lugarejos...Basta aguardar, deixar passar o tempo, até que as chamas se cansem e, sem mais matéria para arder, se apaguem tranquilamente.
b) Nas pontes e outras infraestruturas viárias.
É só esperar que o tempo as processe, as vá mordiscando aos poucos, até que ruam. Depois é só dar tempo ao tempo, até que o processo crie bolor nos tribunais e qualquer tragédia se dissipe no esquecimento.
c) No desemprego.
Nada como o tempo, o desfilar monótono das horas, dos dias, dos meses, dos anos, para ir conformando os desempregados à sua sorte. Paulatinamente, a doença, a depressão, o desespero, a fome, o suicídio, a prostituição, o crime, a emigração vão resolvendo o assunto e desertando as fileiras.
d) No País em geral.
Mais uma vez, é tudo uma questão de tempo: deixar que as televisões funcionem, os media debitem, as escolas adestrem, o veneno actue, a resignação alastre e a corrupção reine. Isso e as leis do mercado.
Governar, assim, nesta óptica liberal, é sinónimo de não intervir. Por isso, Durão Barroso não intervém, assiste; não conduz, abdica das rédeas; não decide, abstem-se, deixa andar. Está lá, não para exercer, mas para impedir que alguém lá esteja. Está lá como Guterres esteve, mas ainda mais nulo que Guterres. Está lá, repete-se, não para governar, mas para manter o país ingovernável, num limbo de adiamento sine die. Não governa, desgoverna. Eunuco, limita-se a estar de guarda; neo-cafre, refugia-se no animismo mercantil e confia no tempo, ou melhor, na Natureza soberana e em que esta siga o seu rumo e consume as suas leis.
Enfim, é um método excelente num país em decomposição, numa sociedade a putrefazer-se. Onde, para usufruto de canibais beatos, o oportunismo coincide, cada vez mais, com a necrofagia.
E para aqueles que se vinham preocupando com a eventual ausência de método no Primeiro Ministro, tranquilizem-se: o PM tem um claro e respeitável método; o país, esse, é que, coitado, há muito que não tem Primeiro-Ministro. Quer dizer: Pelo menos um com eles no sítio.
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