Afinal, não é apenas a Feira Popular que Santana Lopes quer transferir para o Parque de Monsanto: é também o Hipódromo do Campo Grande. Eu, sempre distraído nestas coisas, julgava que era só a Feira. Enganei-me. É a Feira e o Hipódromo. Fora uma série de periféricos e infraestruturas anexas.
O que eu acho disto, o que eu acho mesmo, é melhor omiti-lo. Manda o decoro e a boa educação. Mas não me dispenso dalgumas considerações...
Recorro em primeiro lugar à História Universal. E passo a citar (confiram a qualquer esquina dos séculos): matar uma pessoa é um crime; chacinar um povo inteiro é um imperativo civilizacional. Colocar uma bomba é terrorismo, despejar bombas dum avião é democratização benigna. A diferença, tudo o indica, está na intenção. O terrorista é malévolo, cancerígeno, quer danificar e estraçalhar pessoas; o impoluto civilizador, romano-americano dos nossos dias, ao contrário, propõe-se curá-las –abstergê-las e pasteurizá-las contra todos os maus vícios as doenças. Mesmo quando as faz em fanicos é por uma boa causa. Esta lógica é multi-usos. Também se pode aplicar às árvores. Basta mesmo substituir as pessoas pelas árvores e aí temos de novo o mecanismo a funcionar na perfeição. E como as intenções do Santana são as melhores...
Avancem as máquinas. Desmate-se e terraplene-se a eito. Até porque o mais certo é o arvoredo arder todo um verão destes, perante a impotência heróica de bombeiros, maubeiros e basbaques avulsos. Assim, ao menos, acaba-se já com o risco de incêndio. É a profilaxia da catástrofe, pois. Extirpa-se o mal pela raíz. Mas sobretudo: Nada de meias tintas; faça-se uma intervenção a sério, uma invasão bárbara a rigor. Urbanize-se à bomba se fôr preciso. Escavem-se túneis e viadutos.
E que não seja apenas a Feira Popular e o Hipódromo do campo Grande: que se transfira também o tauródromo do Campo Pequeno, a feira da Ladra, o Jardim Zoológico, os bares do Cais do Sodré e do Intendente, o Castelo de S.Jorge, o Coliseu, o Elevador da Bica, a Avenida 24 de Julho e tudo a que Sua Excelência aprouver!
Mas, acima de tudo, mais que o hipódromo e o tauródromo, que não fique esquecida a infraestrutura mais urgente e necessária à classe política deste país: Um asnódromo. Uma pista de saltos e torneios, onde possam asnear à vontade, sem peias nem embaraços. Não é que já não o façam na via pública, nas instituições e onde quer que lhes dê na real gana. Mas ali, além de recreativo para os nacionais, sempre se tornava atracção turística para os estrangeiros. O país, ao menos, sempre lucrava alguma coisa.
E imaginem só a fama e o renome além fronteiras que não granjearia o digníssimo presidente da Câmara de Lisboa.
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