"Neo" quer dizer "novo". Mas se formos a ver bem, o novo não é algo que vem do nada e que, subitamente, automaticamente, irrompe pela existência. Longe disso; o novo é só algo pré-existente que se reformula, reapresenta, renova. Nenhuma metáfora cai do céu aos trambolhões.
Por falar em novo, falemos deste nosso (cada vez mais) "admirável mundo novo". Recordo aqui algo que merece ser, mais que recordado, afixado.
Do Prefácio ao "Admirável Mundo Novo", na tradução de Mário Henrique Leiria (melhor é difícil):
« Um estado totalitário verdadeiramente "eficiente" será aquele em que o todo-poderoso comité executivo dos chefes políticos e o seu exército de directores terá o controlo de uma população de escravos que será inútil constranger, porque todos eles terão amor à sua servidão. Fazer com que eles a amem -tal será a tarefa, atribuída nos estados totalitários de hoje aos ministérios de propaganda, aos chefes de redacção dos jornais e aos mestres-escola.(...)
E a promiscuidade sexual do Admirável Mundo Novo também não parece estar muito afastada. Existem já certas cidades americanas onde o número de divórcios é igual ao número de casamentos. Dentro de alguns anos, sem dúvida, vender-se-ão licenças de casamento como se vendem licenças de cães, válidas para um período de doze meses, sem nenhum regulamento que proíba a troca do cão ou a posse de mais de um animal de cada vez. À medida que a liberdade económica e política diminui, a liberdade sexual tem tendência para aumentar, como compensação. E o ditador (a não ser que tenha necessidade de carne de canhão e de famílias para colonizar os territórios desabitados ou conquistados) fará bem em encorajar esta liberdade. Conjuntamente com a liberdade de sonhar em pleno dia sob a influência de drogas, do cinema e da rádio, ela contribuirá para reconciliar os seus súbditos com a servidão que lhes estará destinada. (...)
Na verdade, a menos que nos decidamos a descentralizar a ciência aplicada, não com o fim de reduzir os seres humanos a simples instrumentos, mas como meio de produzir uma raça de indivíduos livres, apenas podemos escolher entre duas soluções: ou um certo número de totalitarismos nacionais, militarizados, tendo com base o terror da bomba atómica e como consequência a destruição da Civilização (ou, se a guerra for limitada, a perpetuação do militarismo); ou um único totalitarismo internacional, suscitado pelo caos social resultante do rápido progresso técnico em geral e da revolução atómica em particular, e desenvolvendo-se, sob a pressão da eficiência e da estabilidade, no sentido da tirania-providência da Utopia. É pagar e escolher. »
Aldous Huxley
Quem tiver olhos que veja; quem tiver ouvidos que oiça.
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