domingo, abril 25, 2004

25 DE ABRIL

Foi a maior balbúrdia que eu já vi neste país. Chegou num dia de Primavera, estava eu na primavera da minha vida. Não me venham com políticas. Foi uma festa, uma bebedeira de dimensões épicas. Mandou-se com a canga do Império às urtigas? Pois mandou. Deu-se com a casa em pantanas? Pois deu. Deitou-se fogo a uns quantos jardins das delícias? Pois deitou. Fizeram-se pulhices, bandalheiras, canalhices? Pois fizeram. Hércules, que era Hércules, semideus, com os copos, até matou a mulher e os filhos. Não fomos piores nem melhores. A ralé trepou às estátuas e cagou-lhes em cima. Faz bem ao ego das pseudo-elites. Receberem de vez em quando a visita do caos. Afinal, é ele que, lá bem no fundo - do tempo, das almas e dos sonhos-, reina. Como dizia Hesíodo "No princípio era o caos; e depois a Terra". Às vezes, o pai vem visitar a filha. Na forma de terramotos, de cataclismos. Como naquele dia e nos dias que se lhe seguiram.
O impérios, os regimes, os países, são coisas de homens. Cumprem as efemeridades, os vícios, as virtudes e as torpezas destes. Nascem, vivem e morrem. Por muito que nos custe, e à nossa jactância positivista, não são eternos, nem, a maior parte do tempo, grande coisa.
Mas depois há a esperança e os sonhos, as paixões e os caprichos. Que a bebedeira amplifica e a ressaca deprime. E todas as grandezas e baixezas do mundo.
Com todas as suas ingenuidades, disparates e palermices: Tenho saudades da primavera da minha vida.
E tenho esperança que, agora, lúcidos, corajosos, determinados e com as cicatrizes todas destes trancos e barrancos dos últimos 30 anos, comecemos a pensar em fazer mesmo, um dia destes, o 25 de Abril. A sério. Na nossa própria consciência.


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