Os israelitas andam a construir um muro, uma muralha imensa, para se protegerem dos terroristas. Dizem eles que é essencial. Deve ser, porque até está a virar moda. Agora, são os ingleses que se propõem cercar o Palácio de Westminster com um muro anti-terrorista. "Deverá ter 4,6 metros de altura e o topo coberto por arame farpado".
Em termos estéticos e turísticos, um desastre, portanto! Mas em termos de luta anti-terrorista, um must! , um paradigma que, uma vez edificado, não tardará a promover réplicas suas por todo o mundo civilizado e ocidental. Bem, todo, todo, também é capaz de ser um exagero. Duvido que os franceses e alemães vão nisso (estes, então, nem podem ver muros à frente!...) Mas em Portugal, isso, de certeza absoluta. Do parlamento às vivendas dos políticos e analistas, para felicidade dos empreiteiros, será vê-los crescer, a esses agregados de betão e tijolo (ou pedra e argamassa), coroados de arame farpado e reforçados a cacos de vidro, com rothweilers no lado de dentro.
Digo mais: nesta penosa aprendizagem do que está "in" e "out" para a estação anti-terrorista que se aproxima, é reconfortante, para já, ficar a saber que o muro (bem como o assassínio selectivo) estão "in", e o diálogo está "out". O turismo armado, em expedições numerosas e depredantes, também continua "in", se bem que com vozes crescentes a considerá-lo "out". Mas ficar em casa ou voltar pra casa a correr, decididamente, está "out". É pior que vestir smoking com peúgas brancas. Pelo menos, é o que dizem os comentadores da Moda.
Resta-nos falar de idiossincrassias, isto é, as manias singulares de cada povo ou nação. Lançada a moda do muro na passerelle israelita, eis que os ingleses optam pelo modelo "paredão" clássico, de 4,6 metros, coroado a arame farpado. É a sobriedade e laconismo britânicos a virem ao de cima. Já os franceses, sempre mais perifrásticos e sofisticados, optarão decerto pelo modelo "Maginot" revigorado, linha vasta e complexa de fortificações e baluartes. Os alemães, por seu turno, adeptos da profundidade telúrica, escolherão certamente o padrão "bunker" ou, à superfície, em linhas costeiras, o estilo "grande muralha". Que os gregos, por atavismos helenistas, prefiram a acrópole, e os espanhóis, por tauromáquicos, teimem no redondel, também não será difícil de prever. Tudo isso é óbvio.
Só o caso português parece mais problemático. Por um lado, o português pela-se por imitar; por outro -e aqui é que as coisas se complicam -, adora exagerar e afoleirar aquilo que imita. Há um filtro qualquer no esquema mental dum português, cujos efeitos são fatais e devastadores. Mesmo um muro não resiste. Nem que tivesse dez metros de altura, não resistia. Somos um povo encefalotrófico: As coisas levedam-se-nos na cabeça. O muro cresce, infla-se, sobe pelo céu acima, dobra-se, curva, até abarcar, feito casulo, todo o horizonte, cobrindo todas as direcções.
Por isso eu quase que aposto...Cá, de certaza quase absoluta, não vai ser apenas um muro: vai ser um iglu!... OU seja, um muro na perspectiva dum pato-bravo. OU chico-esperto.
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