Apesar de perversa, os terroristas usam duma lógica concludente.
Senão, vejamos:
Como todos os nossos videntes, áugures e adivinhos proclamam, eles, os infames, acima de tudo, odeiam o nosso belo sistema de vida e o nosso perfeito regime político: a Democracia. Querem mesmo dar cabo dela à bomba.
Ora, assim sendo, (e com tantos astrólogos e cartomantes a garanti-lo, só pode mesmo ser), ou eu sou muito estúpido ou os tipos que elegemos e a quem pagamos salários na administração pública são umas completas abéculas quadricéfalas e encefalopédicas! É que anda pr'áí toda a gente preocupada em proteger parlamentos, palácios governamentais e quejandos, quando os terroristas não querem saber disso pra nada.
Ao contrário de nós, estudaram detalhadamente o inimigo. Sabem que em democracia vigora a soberania do povo; que é este quem elege os seus representantes, procuradores e mandatários na governação.
Que interesse teriam, pois, em mandar pelos ares, feitos fanicos esturricados, uns quaisquer intermediários engravatados armados em importantes? Bem que o povo soberano se ficaria a rir disso: substitui-los-ia, num ápice, por outros ainda mais imbecis, se é que, em muitos casos não respiraria mesmo de alívio. Portanto, que efeitos práticos teriam essas explosões? Nenhuns, ridículos, ou o contrário daquilo que os digníssimos terroristas pretendem. Esse, de resto, foi um erro repetido no passado, por terroristas arcaicos e pouco evoluídos. Terroristas certamente analfabetos. Ao contrário destes, licenciados, que estudaram nas melhores universidade e aprenderam com os melhores professores.
Por isso sabem utilizar essa arma formidável que é a lógica e, consequentemente, o raciocínio. (Ao contrário, por exemplo, do Pacheco Pereira e do Vasco Pulido Valente que, não só se encontram ainda num estado pré-lógico, como fazem da vesícula o centro do pensamento)...E como sabem utilizá-los, utilizam-nos. Vão direitos ao cerne da questão, ao ponto verdadeiramente nevrálgico da democracia: o seu soberano; ou seja, o povo.
Em Madrid, apanharam-no de manhã cedo, desprotegido, estremunhado, reunido em comboios, a caminho do emprego.
Em Portugal, ainda será mais fácil, no que refere à vulnerabilidade. Em contrapartida, as dificuldades aumentam no que respeita às concentrações em transportes públicos. Estes, lúgubres e fantasmas, rodam cada vez mais vazios.
Mas a esta hora, decerto que os terroristas já perceberam que a melhor forma de apanhá-lo em grandes concentrações, o local garantido, é mesmo nos Centros do Desemprego e Segurança Social.
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