Às vezes, ponho-me a pensar no que seria se eu tivesse nascido em berço de ouro, equipado com um apelido daqueles que abrem todas as portas neste país... A esta hora, em vez do talentoso sem abrigo que sou, desfilaria por aí feito um anafado e luzidio MJP (Multi Job Person), ou dito lusofonamente: GTM (Gajo de Tachos múltiplos); um Pluri-tachista, enfim. O fascinante que devia ser, a experiência enriquecedora que não seria dar aulas na universidade, fazer programas na rádio, lançar livros, escrever crónicas nos jornais, ter programas na televisão...e tudo isso em simultâneo. Que ubiquidade magnífica! Que homonimia avassaladora!
Eu seria, assim, ó maravilha!, uma espécie repimpada de Heleno Sarradura Cabral e, teria como sacra missão neste mundo, transformar a culinária no supremo grau do saber humano: um puré sublime de economia política à la planche e lastrofísica com todos.
Imagino já aquela que seria a minha obra mais fulgurante e imortal:
"A Crítica da Ração Pura"
A que se seguiriam outras, não menos doutas, (todas best-sellers) prás quais até já tenho os títulos:
"República de Bananas"
"Discurso do Molho"
"Leviatã no forno"
"Conjecturas e refugados"
"O ser e o tempero"
"Acerca do Infinito, do Universo e dos mariscos"
"Regras para a direcção do Esparregado"
"Investigação sobre o apetite humano"
"Tractatus Logístico-culinário"
"A Vontade de Comer"
"Ecce-ovo"
"O Caso Vinagre"
"Assim falava o Cozinheiro"
"O Sal e o Nada"
"As palavras e os tachos"
E tantos outros. Uma nova e verdadeira Revolução Copernicana no pensamento ocidental.
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