sábado, janeiro 10, 2004

UMA QUESTÃO DE CINTO

As conclusões duma pesquisa científica, em ambas as margens do Atlântico, estão a cair que nem uma bomba sobre as convicções até aqui tidas como indiscutíveis. Afinal, não é o álcool que está por detrás da crescente sinistralidade nas estradas de todo o mundo. Aliás, nem o álcool nem a generalidade dos estupefaccientes (mesmo sob efeito de LSD, o pior que o automobilista, regra geral, comete é fechar-se na bagageira e imaginar-se nas "20.000 léguas submarinas" ou numa viagem a caminho de Marte) agravam especialmente o risco de acidente durante a condução. Pelo contrário, contribuem para um relaxamento psíquico e motriz que facilita as manobras. Não, o verdadeiro responsável foi agora, finalmente, descoberto: Relações sexuais; sexo ao volante. Isso mesmo, nem mais. Estatísticas exaustivas e relatórios de ocorrência, compilados em todo o mundo, atestam-no. Os governos e as administrações estão em estado de choque com esta revelação. Os contribuintes interrogam-se pelo uso dado, entretanto, ao seu dinheiro.
De facto, o que cientistas credíveis e insuspeitos comprovaram, foi que não era o excesso de álcool no sangue que estava a perturbar os automobilistas, mas sim o excesso de espermatozóides nos testículos deles; o excesso de calor (o chamado climatério vulvo-vaginal) na vagina delas e o excesso de estímulos libidinosos a nível do cortex cerebral de todos (mesmo os mais idosos, imagine-se).
Entretanto, as estatísticas reflectem que o facto da viatura seguir apenas com um ocupante (o condutor) não diminui substancialmente os riscos: sobremaneira à noite ou em longas viagens, para não adormecerem, os condutores, muitas vezes, fantasiam ao volante e, sobrexcitados, tendem a masturbar-se nas auto-estradas. Ou então distraem-se com as bermas das vias, à cata de profissionais que os aliviem.
Em termos de factor de risco, o único dado aquirido é que o grupo de mais baixo risco é o dos casais heterossexuais casados em regime de comunhão de bens há mais de dois anos e há menos de dez (com mais de dez, o risco de sexo ao volante é substituído pelo risco de violência conjugal ao volante).
Quanto aos grupos de mais alto risco, o dos condutores masculinos solitários é o primeiro, logo seguido dos casais heterossexuais não casados e homossexuais de ambos os sexos.
Quanto às recomendações, no que concerne à prevenção e segurança, a equipa científica não tem dúvidas; é simples e de carácter urgente: basta substituir o cinto de segurança, artefacto inútil, por um cinto de castidade.
A obrigatoriedade deste cinto é mais que evidente. Campanhas de educação deverão ser lançadas e uma fiscalização rigorosa deverá ser feita. Em complemento, as viaturas deverão ser também equipadas com sistemas de alarme luminoso, para denunciarem o incumprimento da norma e o derivado perigo iminente para o restante trânsito.
Entretanto, se a situação mundial é, dum modo geral, considerada preocupante, países há, onde a classificação é já de catastrófica. É o caso de Portugal.
Aqui, sucedem-se as agravantes deveras complexas.
Primeiro, de ordem psicológica: os condutores transferem uma forte carga sexual para o carro, sobremaneira hiper-fálica, e pretendem, a todo o transe, foder tudo com ele. Psicólogos, psiquiatras e psicanalistas não encontraram ainda enquadramento para este desnorte: não sabendo se o hão-de incluir na ordem dos devaneios, das taras ou das esquizofrenias.
Em segundo, de ordem rodoviária: não só as estradas estão mal pavimentadas, desenhadas e sinalizadas, como cada vez mais estão infestadas de putas que distraem da devida atenção aos sinais e aos outros veículos.
Em terceiro, de ordem cultural: o condutor português concentra toda a condução nos pés e tende a usar as mãos para outras tarefas: falar ao telemóvel, masturbar-se, pilotar o hi-fi, maquilhar-se, gesticular, etc.
Em quarto, de ordem fisiológica: comprovou-se que a influência do volante e da trepidação automóvel sobre os testículos, a vagina e a libido é, nos portugueses, bastante superior à generalidade dos europeus e americanos.
Assim sendo, os especialistas recomendam unanimemente que, em Portugal, além do cinto de castidade reforçado, os condutores deverão usar também antolhos (à semelhança dos animais de tracção) e uma rede hermética de separação entre os lugares do condutor e do chamado "morto".
Até que enfim, uma luz ao fundo do túnel!...Alguém que diz alguma coisa com senso!


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