Convém não deixar cair no esquecimento a obra de caridade pós-natalícia que o governo da nossa República fez ontem: triplicou os salários dos gestores de hospitais públicos, aumentou-lhes os plafonds dos cartões de crédito e autorizou que comprassem viaturas duas vezes mais caras (as quais, passados três anos, os coitados dos gestores carenciados podem privatizar por 20% do preço); isto e outras esmolas menores que seria fastidioso enumerar.
Um tal acto de beneficiência -direi mais: de inaudita filantropia -, não só não merece esquecimento, como, estou capaz de jurar, merece ser recordado por tempos imorredouros, na forma duma capela, monumento assinalativo ou santuário. Esta última hipótese até me parece a mais condigna. Não só a mim como a todos aqui na tasca - aliás, Ciber-tasca. Tanto assim é que até já temos nome para o sacro e bendito recinto: Nossa Senhora das Mordomias.
Virão peregrinos de todas as partes, descalços e esfarrapados, mas fervorosos na sua fé e louvaminhantes deste milagre que todos testemunhámos e, a cada dia que passa, mais e mais, se perpetua: de como São Durão e Santa Manuela conseguem transformar os tostõezitos furados de hordas de desgraçados em tesouros sem fundo para nababos eleitos!...
Ao pé deles, taumaturgos insuperáveis, até o pobre Jesus, Deus me perdoe, empalidece e passa vergonha com a sua obsoleta multiplicação dos pães.
Fátima que se cuide...
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