terça-feira, janeiro 13, 2004

FÁBULAS - 1. A cigarra e a formiga


Instalada num confortável sofá, defronte da lareira, a formiga gozava dos confortos da sua casa nova e dos mantimentos açambarcados durante a boa estação. Lia balancetes e planeava mapas de recolha prá primavera..
Ao mesmo tempo, protegida, instalada, comprazia-se com a neve que ia caindo lá fora e o vento gelado que atormentava os campos.
A certa altura, bateram á porta. A formiga já o esperava e sorriu triunfante, ufana...
"Lá vem ela", pensou. "Por esta altura do ano, é sempre a mesma coisa...Mandriou o verão todo e agora vem pedir batatinhas!... Eu já lhe digo das boas!..."
E dirigiu-se para a porta da rua, toda satisfeita consigo própria; pronta pra mais um sermão vingativo.
Abriu...Não era a cigarra, era o Dragão.
Ia pra dizer qualquer coisa, o visitante, quando, derivado certamente do clima inóspito, foi acometido dum espirro. Ainda tentou sustê-lo, mas em vão. Espirrou inapelavelmente. Em cima da formiga e da casa da formiga.
Depois, desolado, foi-se embora.
Mais tarde, quando a cigarra chegou, para vir pedir batatinhas, encontrou a porta aberta e aquilo tudo com ar de holocausto. Perplexa, não viu a formiga, mas viu as batatas, amontoadas na dispensa. Radiante, não se conteve de bradar:
"Olha que gentileza: batatinhas fritas!..."

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