sábado, dezembro 20, 2003

CONTABILIDADE MACABRA

Considerações éticas e políticas à parte, atenhamo-nos estritamente aos números. Na guerra oficialmente encerrada do Iraque, onde o exército da superpotência americana defronta o escol do terrorismo mundial, morrem ou ficam feridas, por mês, "X" pessoas. Nas estradas de Portugal, um pequeno país periférico da União Europeia, morrem ou ficam feridas, no mesmo decurso de tempo, "Y" pessoas. Ora, parece que o número "Y" é maior que o número "X". Se pensarmos que os Estados Unidos têm uma população de 300 milhões de habitantes, e Portugal uma de 10 milhões, a perplexidade instala-se. Estamos em guerra com quem?
Percentualmente, baixas equivalentes às nossas por parte dos americanos, implicariam um novo e assanhado Vietname. Percentualmente, quinamos que nem tordos.
Curiosamente, são capazes de estar mais preocupados os americanos com as suas baixas no Iraque, que nós, os portugueses, com as nossas nas estradas. Bravura inata ou inconsciência empedernida? Ou um grau atávico e adestrado de insensibiliade à própria dor, que nos transforma numa espécie de "pitbulls do asfalto"?
É no mínimo aberrante que, para cúmulo, os nossos inefáveis governantes ainda nos venham com ladainhas de "crise económica", "desequilíbrio orçamental" e quejandas. Foda-se, é difícil não haver "desequilíbrio orçamental" no meio duma guerra civil. Indiquem-me um país que tenha conseguido conciliar os dois, crescer e desenvolver-se placidamente no entretanto, e eu calo-me. Está o rincão pátrio a ferro e fogo, literalmente, e as azêmolas só pensam no caralho do défice!...
O paciente escarra sangue e cospe os pulmões, deitado no catre miserável e bafiento dum casebre em ruínas, e os senhores doutores médicos iluminados concentram-se exaustivamente nas borbulhas das costas!...
Só não percebo uma coisa: se se organizam lutas de cães, lutas de galos, lutas de pugilistas, karatecas e outros; se isso é altamente rentável e atractivo; porque é que ninguém ainda se lembrou de organizar "lutas de portugueses"? O que não falta por aí são lutadores encartados e profissionais, gente que nunca fez outra coisa na vida...O espectáculo, de resto, já existe, é endémico. Só lhe falta adequada promoção, divulgação internacional e investimento em infraestruturas de apoio (quase bastaria dispôr bancadas ao longo das estradas). Estou certo que atrairia mais turistas e divisas que a tourada! E quem sabe se, pioneiros e desbravadores como só nós somos, não seríamos até os primeiros a conseguir conciliar a guerra civil e o "equilíbrio orçamental"!...
Não deve ser mais difícil que chegar à Índia!...

PS: Pra que é que serviram os subsídios e ajudas comunitários? Tirando as golpadas do costume (que não foram poucas), do que se visse, essencialmente, serviram para fazer estradas e auto-estradas, viadutos, túneis e afins. E também para comprar carros, jeeps, motas e outros que tais. E para que é que servem as estradas, os carros e os portugueses tudo junto?...Se eu fosse um teórico da conspiração, diria assim: em África largaram a Sida; aqui injectaram carros e alargaram as estradas!...O resultado, esse, vai ser o mesmo.

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