domingo, novembro 19, 2006

O Mal em figura de gente

Na saga humana ao longo dos séculos, quase tão premente quanto a necessidade de explicar o mundo, só mesmo a necessidade de explicar o mal do mundo. O historial é vasto. A figura mais proeminente que a civilização ocidental recrutou para o desempenho de tão tenebrosa incumbência chamou-se (e ainda se chama) Diabo.
Na Idade Média era polimorfo, panglota, ambíguo, misantropo, astuto, perverso, tentador, príncipe do mundo, maestro de orgias.
Actualmente é masculino, branco, heterossexual, cristão e europeu.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caso para dizer que houve uma Decadência do Demo, e centra~se isso na progressiva perda de fantasia do dito e dos seus seguidores actuais. O último Grande Mefisto, que já era uma condensação cristalizada do desvario glorioso da antiga, metamórfica, pânica figura,cedeu lugar ao dr.Satanzim dos Santos, psicoterapeuta, romano, prático, low-profile.

Penso que o Aleister Crowley, ao irradiar a sua palavra, de excessivo ritual e nomeadamente a partir da Missa Negra, deu uma bela traulitada no velho Samael. Curioso que tenham sido os satanistas a dar cabo do velho Satâ. Curioso ou típico? De certo modo, o Demo sempre foi alguém bastante respeitável, tipo juíz ponderado, vestido de tom escuro, gravata anódina, e que nunca diz palavrões, um anglo, um engel, um inglês.

E o problema é que parece não haver possibilidade de resurreição para o antigo e divertido desordeiro, acusado de bestialismo, de conúbio, de incesto, de incubismo e outras coisas tenebrosas e esplêndidas que estão todas num texto sub rosa do Lovecraft, em dois poemas do Baudelaire e nas figuras de pedra de algumas catedrais, como a de Chartres.

Sem ressurreição do demo, acabará ele por se esgotar ou transformar ainda mais do que dantes em Legião ? rastejância já há e demais, mas total? Chi lo sa. Por mim passo a assobiar deslizando pela noite das trevas contemporânea. Também não sou daqui.

Anónimo disse...

Caro mp-s

O "gajo" não é só um: além, de em parte sermos nós próprios, o gajo é Legião. Ou seja, deite uma vista de olhos pela janela, esse gentio aí, que passa robotizado em direcção do próximo campo de exterminação, digo, do próximo ecrã de TV onde passe futebol "é" o gajo. Uma sociedade anónima planetária. O Ratinho de que fala é só mais um, que por acaso está de vez em quando a acenar à janela.

Lutero, de resto teve uma inspiração seguida de uma coarctação, A inspiração foi perceber, na altura, que o Papa era o anti~Cristo, portanto Satã. A coarctação foi pensar que era o único.

Cumprimentos,

Gonçalo P.C.